Wednesday, January 19, 2011

A Azia do Bolo-Rei

Com o aproximar do dia 23, os eleitores ficam cada vez mais esclarecidos sobre quem querem para figura máxima do estado. Seria fácil continuar a frase com um "a que as coisas chegaram", mas vou tentar seguir um caminho diferente.

Certamente que a ironia do "ficam mais esclarecidos" não terá passado despercebida. Quem ouve na Rádio Comercial a "Caderneta de Cromos", lembra-se certamente como Nuno Markl relatou em 3/4 episódios as lembranças que as presidenciais de 1986 lhe traziam. Duvido que quem se der ao trabalho de fazer uma semelhante caderneta em 2034 tenha muito mais para dizer sobre esta campanha do que "Ah, e parece que houve uma espécie de eleição!".

Na verdade a chamada "campanha" serviu menos para trocar ideias do que para arremessar lama, introduzindo a originalidade de, desta vez, termos ouvido o candidato Cavaco Silva. O que, pode ser perigoso! De facto, Cavaco pode orgulhar-se de, enquanto presidente, ter sido um dos poucos (único?) político português a ser eleito e que cumpriu rigorosa e escrupulosamente todas as promessas que fez. Que em abono da verdade foram nenhumas, uma vez que durante a campanha de 2006 Cavaco esteve mais silencioso que um bolo-rei com uma laringite! Ainda no tema Cavaco, acho mal que se levantem dúvidas em relação a um certo aldeamento algarvio. Então uma pessoa não pode morar perto dos amigos? Veja-se o exemplo dos bairros sociais, onde vário indivíduos de idoneidade duvidosa convivem alegremente. Que uns sejam traficantes de droga e os outros de influências são apenas diferenças de objecto!

Para mim, que cresci nos gloriosos anos do Cavaquismo, habituei-me a apreciar as liberdades com que Cavaco nos presenteava. Lembro-me da liberdade da polícia arrear na malta, no bloqueio da ponte; da liberdade de arrear na câmara de televisão, como na Manuel Pereira Roldão e como lembrava o Pedro Abrunhosa há uns meses, de ninguém na comunicação social (poder) dizer mal! Com o tempo cresci e percebi algumas coisas. Percebi, nas aulas de história, que não foram só as asneiradas do pós-25 de Abril que nos mandaram para a lama, mas também (e essencialmente) o desbaratar de fundos europeus. No extremo até se pode dizer que esses fundos vinham para corrigir as asneiras, e acabaram por se tornar uma asneira maior.

A supra referida campanha de 1986 ficou também famosa pelo tamanho dos sapos que foram engolidos e torna-se curioso que um partido surja novamente envolvido nos sapos de 2011. Como já terão adivinhado, não falo do PCP... No entanto desta feita o sapo não é um candidato, mas sim um partido. A saber, o PS é o sapo que Alegre tem de engolir. Quem acompanhou o processo eleitoral em 2005/6 sabe que nessa altura não só Alegre foi uma pedra no sapatinho do PS, como também que a grande força de Alegre era precisamente o aparecer desligado de forças partidárias. Na altura ele concorria contra o que eleitorado vê como a personificação do mal, os partidos. Durante uns tempos foi vê-lo a manter-se contra, inclusivamente na Assembleia da República.

Com o aproximar de 2010 foi vê-lo a acalmar e a remeter-se à figura do lendário Toni, na Conversa da Treta (gritando e esbracejando "'adeslarguem-me' que eu vou-me a ele", quando ninguém o segurava). Em 2011 aí o vemos a engolir o sapo chamado PS. A melhor forma de o calar era apoiá-lo e foi isso que o partido fez e, apesar de aparecer a fogachos, alguém duvida que o apoio é bem mais moral que efectivo? Alegre é um cordeiro sacrificial! Desta não se pode queixar que o partido não esteve lá e o partido ganhou o candidato ideal para perder a votação, sem se comprometer muito, conseguindo de caminho calar uma das vozes mais críticas.

Em jeito de nota final, gostava de dar algum destaque à Grande Entrevista com Francisco Lopes. Lembro-me de por volta de 2004/5 ter visto uma semelhante com Jerónimo de Sousa e de ter gostado. Gostei da postura e gostei do discurso. O mesmo desta vez. Infelizmente com o tempo, Jerónimo mostrou que naquela ideologia existe uma massa em vez de um conjunto de indivíduos e que ninguém desde o século XIX parou para reflectir nas mudanças do mundo. Nesse sentido seria interessante verificar de que forma evoluiu a Igreja (no caso a Católica) e ver como evoluiram as mentalidades para aquela banda. Ou noutro sentido, como evoluíram as mentalidades da população no que diz respeito a representantes de um partido dito comunista. O comportamento da comunicação social face a este partido é de todo lamentável. Cortar a palavra, desviar respostas e todo um rol de comentáriozinhos não me parece que seja bom entrevistar.

Se é certo que não nos tornamos tolerantes por decreto, seria bom que pelo menos quem tem obrigação de ser imparcial fizesse um esforço por o ser.

Quanto ao esclarecimento do voto... Sei que não voto Cavaco, sei que não voto Alegre. Quanto aos outros... Domingo logo se vê!