Friday, October 7, 2011

Proletarier aller Länder vereinigt Euch!

Alguém experimente traduzir e dizer em voz alta a frase do título, tirada do manifesto de um tal de Marx, e certamente haverá quem para ele como se ele tivesse uma doença altamente contagiosa. Que esta atitude encontre ecos em franjas de desempregados e vítimas daquilo a que o referido autor se opõe na sua obra, não deixa de ser curioso.

Curioso também é como as mesmas figuras vitimadas defenderão com unhas e dentes um sistema que fomenta a livre circulação de capitais e mercadorias e a barra a pessoas. É mais fácil um pacote ser enviado de Bruxelas para a China, com paragem em todas as capitais pelo meio, do que uma pessoa fazer a referida viagem.

Pior, se a pessoa quiser trabalhar para subsidiar a viagem, as dificuldades ainda serão mais acrescidas.

No entanto os pacotes vão e vêm com impressionante e relativa facilidade e nem só para a China. Na questão Líbia, nenhum país do Mediterrâneo queria os líbios que fugiam, mas todos queriam (querem?) o petróleo e o gás.

Por uma questão de coerência, ninguém que esteja contra a livre circulação de pessoas poderá comprar um artigo importado. Dir-me-ão que os artigos cumprem regras e pagam impostos. E as pessoas não? Ou reformulando, estando em igualdade de condições, não pagarão as pessoas os mesmos impostos? Será uma pessoa que procura ter acesso a melhores cuidados de saúde, a melhor educação a um emprego melhor, menos valiosa que um par de calças?

Talvez o que o Mundo precisa é de ajustar o seu sistema fiscal aos tempos que correm. Não se pode continuar a ter uma arquitectura fiscal de finais do século XIX, onde a sociedade dos serviços era reduzidíssima, quando se tem uma economia de séc. XXI. Não se pode inundar o mercado com produtos produzidos com quem recebe pouco mais de 300 euros por mês, em turnos de 12 horas, sem direito a educação, a assistência na saúde, que vivem literalmente em jaulas (ver reportagem Living in a cage in Hong Kong) e depois dizer a quem usufrui dos direitos da Convenção dos Direitos Humanos é que está errado, que não é competitivo.

Tem de haver uma pressão para que ocorra igualdade de circunstâncias no tratamento de diferentes trabalhadores. Isso não quer dizer trabalhar até morrer, não quer dizer turnos de 12 horas, não quer dizer semanas de 6 dias. Isso quer dizer direitos humanos para todos. Direito ao trabalho e não à exploração. Direito ao descanso. Direito a ter uma família e poder estar com ela. Direito a poder tratar os filhos como algo mais do que fontes de rendimento. Direito a poder procurar uma vida melhor. Porque ser rico não é crime, quando não se consegue a riqueza à custa da miséria dos outros.

Num próximo comentário abordarei duas medidas que penso poderem fazer a diferença, haja coragem e determinação para as por em prática.