Thursday, April 25, 2013

O insucesso de Abril, o sucesso de Maio.

Hoje é 25 de Abril e a chamada casa da (chamada?) Democracia fechou-se ao demos. Claro que isso depende muito de a quem se pergunta. Se perguntarem a quem manda por lá, a resposta é que falta espaço porque está tudo cheio com alunos do básico e secundário. De louvar este apelo pela juventude e este interesse pela educação dos jovens naquilo que se quer como valores de cidadania. Claramente esta mudança de comportamento não pode estar de forma alguma associada a uma certa canção que normalmente se relembra nesta altura e que Pedro Passos Coelho catalogou como a melhor forma de se ser interrompido.
O único factor que entristece é que parece que no que se refere a programas educativos, o Governo revela uma certa falta de coordenação com a Presidente da Assembleia da República. Que progressivamente se esteja a reduzir o 25 de Abril a cravos, à Grândola e à Democracia é redutor. O cerne é mesmo o itálico.
Recentemente entabulei uma conversa com, porque hoje é 25 de Abril, uns camaradas-pá sobre as últimas legislativas. Apesar de todos votarem, foi com espanto que me olharam quando lhes lembrei que o meu boletim de voto tinha perto de quatorze escolhas. É verdade, eram mais do dobro daqueles que têm assento no edifício que hoje fecha ao povo para se proceder à endoutrinação dos jovens, no entanto a resposta invariaável é que os outros são demasiado pequenos. Ao contrário dos clubes de futebol, em que o Almada ou o Benfica tanto jogam bem como mal independentemente de eu ir ou não ao estádio, em democracia a dimensão de um partido depende mesmo de eu ir lá ou não.
Acho que hoje é importante falar nisso face ao retrocesso social que sofremos. Vozes alinhadas com o Governo dizem-nos que as coisas não correm como esperado mas não se pode comparar com a crise da década de 20 (do século XX). Vozes desalinhadas do Governo asseguram-nos que o que se passa é um falhanço a toda a linha de uma política. Ambos mentem.
Nem a coisas não correm como esperados, nem são um falhanço. Nunca foi um objectivo de quem nos impôs estas medidas dar-nos algo vagamente semelhante a autonomia, nem quem as aplicou andou por um segundo que fosse iludido quanto ao que realmente ia acontecer. O que tem sucedido, e o mais recente chumbo do Tribunal Constitucional vem confirmar, é um sucesso a toda a linha das medidas de austeridade. Desde o aumento do desemprego, aos cortes nos apoios do Estado a quem se encontra, já não em risco, mas abaixo das linhas de risco, a ausência de uma reforma da Educação que não seja mais do rearranjar a ordem das cartas, tudo o que é feito é feito com o objectivo único de nos fazer retornar à noite que antece a madrugada esperada, a véspera do dia inteiro e limpo, o retorno ao come-e-cala que quem-fala-não-come.
Tudo isto seria apenas triste, não fora esse regresso um pedido que se ouve nas ruas, que nos deu um grande português (ou um grandessíssimo), e que nos faz ouvir alguém soltar regularmente a expressão sobre outros tempos. Não foi a mentira que deu à actual maioria a sua maioria. Já antes de eleito, o actual primeiro-ministro havia dito e prometido tudo e o seu contrário. Foi uma genuína saudade do antigamente que não era assim.
Encontramo-nos à beira de celebrar quarenta anos da revolução em que o povo saiu à rua e obrigou os militares a instaurarem um regime democrático. Esse povo falhou-se a si mesmo. Fomos nós, cidadãos, quem falhou Abril e o que ele prometera, ao nos desligarmos do que com ele conquistámos e permitirmos que meninos imberbes, saídos do berçário da vida, passassem por autoridades de algo que nunca fizeram e nos impusessem a sua lei. Fomos nós que esquecemos e continuámos a tolerar que quem ao longo de um século explorou e abusou, pudesse regressar para continuar a explorar e abusar e ainda nos dizer que aguentamos o correntes abusos e muito mais. Fomos nós que falhámos o 25 de Abril e demos o triunfo póstumo ao 28 de Maio.

PS - Acho delicioso que Assunção Esteves profira a frase "as pessoas não se podem manifestar" e tenha a chamada cara podre para se manter no cargo que ocupa. Claro que isso sou eu!