Thursday, March 17, 2011

Jovens Determinados

«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar» (Cavaco Silva, 15-Março-2011)

Ao meu caro Presidente da República, recomendo apenas que, deixe os jornais por cinco minutos, e se deleite com este poema da Sophia (de Mello Breyner Andresen), datado de 1977.


Partiu vivo jovem forte
Voltou bem grave e calado
Com morte no passaporte

Sua morte nos jornais
Surgiu em letra pequena
É preciso que o país
Tenha a consciência serena








Tuesday, March 15, 2011

Os Homens e a Luta (Parte II)

De um ponto de vista de personagem, Neto e Falâncio movem uma enorme massa humana, mas será que essa enorme massa humana se revê de facto na música?

A pergunta surge porque quem trouxe para a ribalta estes artistas foi um concurso que, convenha-se, há muito que prima pelo perfil tímido e que se apresenta mais como uma coisa que tem de ser do que algo que merece ser disputado. Nada a ver com outros tempos...

Uma análise cuidada às regras do concurso dizem que os Homens da Luta foram vencedores a cumprir as regras (como Fernando Tordo notou na RTP, logo eles que são tão famosos por as esticarem) e as regras diziam que o público tinha peso na matéria. Eu poderia partir para o comentário demasiado fácil e dizer que se calhar devíamos ter um parlamento mais como o festival, mas não o vou fazer... Cientes disso os Homens da Luta iniciaram uma campanha para que os seus fans votassem neles. A campanha deles não foram duas mensagens no facebook uma semana antes dos resultados! A campanha deles foi repetida à exaustão, um convite a irem ao site do festival (onde todas as músicas estavam representadas), a votarem neles para, primeiro, serem escolhidos, então, para ganharem. Foi uma abordagem muito profissional, como diz Paulo Morais no seu blog (Marketing Digital: Uma lição dos Homens da Luta para vencer na rede).


Tentar que música A Luta é Alegria não vá ao Festival como representante luso funciona quase como elogio à música e confere-lhe uma aura que ela não tem, fazendo lembrar outras touradas... Face ao que eles já fizeram a música nada tem de revolucionário e/ou político. Como as regras do festival determinam. Se quem ouve esta músia ali revê qualidades políticas, então quando ouve o L-Pod deve ficar com os pelos do rabo eriçados!

O L-Pod, para quem não sabe é o (esse sim) revolucionário álbum, distribuído num bonito leitor de MP3 com espaço ainda para juntar o hino festivaleiro, umas quantas da Deolinda, um José Mário Branco e/ou uma banda do exército. Também se pode simplesmente apagar aquilo e colocar lá dentro os Nocturnos de Chopin e/ou o Requiem de Mozart, o álbum tem essa versatilidade, não prende, não amarra, não obriga a ficarmos com o que não queremos.

Há quem acuse os Homens da Luta de falta de qualidade musical. Concordo que esta será talvez a sua canção menor. Como não sou musicólogo não vou avaliar isso. Agora rotulá-los de artistas menores é errado. Pode haver quem não goste das letras, quem não goste da mensagem e até quem não goste do visual, e por todos esses motivos tentem calá-los e rotulá-los de artistas menores, mas a música que fazem é boa música, que não precisa do visual para chamar fans. Depois de um dos mais aliciantes projectos no punk-rock nacional, Jel e o irmão viraram 180º e deram-nos um dos melhores projectos de música portuguesa. Em vez de os aplaudirmos vaiamos. Não faz mal... 

Nas notícias sobre sábado, um jornal espanhol, de seu nome El País, achou que devia rematar a notícia com a presença dos representantes de Portugal na Eurovisão. E nós sabemos como os espanhóis nunca nos dão pontos...


 

Monday, March 14, 2011

Os Homens e a Luta (Parte I)

Tenho estado uns tempos afastados, não por falta de assunto, mas mais por sentir que havia demasiado assunto para tão pouco tempo que disponho. Hoje decidi-me e, como o título deixa antever, vou falar sobre o que toda a gente fala.


O número dos Homens da Luta é talvez um dos mais inteligentes números satíricos já feitos em Portugal. Ao lado dele, o humor refinado dos Gato Fedorento não passa de piadolas atiradas ao ar. Confundir o número com os cantares interventivos do pré e pós 25 de Abril é um elogio e um equívoco.


Um elogio porque liricamente estamos a falar de um dos períodos mais ricos da música portuguesa e os Homens da Luta são, liricamente, herdeiros desse período. Musicalmente foi também uma altura de renovação, com a entrada de sons do folclore continental e ultramarino e os Homens da Luta foram buscar os frutos dessa renovação. Em termos de figurino parece que desde as camisas ao cabelo também são herdeiros dessa época, mas é aí que começa o equívoco.


Enquanto que representando esteticamente o período do PREC, os Homens da Luta chamam-nos a atenção para quem pega num megafone e defende os nossos direitos. Seria importante ver o depois da Luta, algo que eles não sonegam e assumem como parte do seu número. Na famosa intervenção no Seixal, Jel bem passa a mensagem que "Sócrates é bom para a Luta"; na tomada de posse do Governo (em que foram presos por perturbar o funcionamento de um órgão de soberania) vão ao ponto de listar uns quanto políticos de esfera governativa (e aqui não se ficam pelos da actual esfera governativa) que começaram na Luta, em entrevistas o camarada Neto diz várias vezes que espera que não acabe a Luta, porque senão ainda tem "de ir trabalhar".


É compreensível que não hajam muitas forças políticas a quererem colar-se às personagens! A mensagem que transmite não se torna falsa por estar inserida num número humorístico, construído à custa de um imaginário que nos trouxe onde hoje nos encontramos, porque não haja a ilusão camaradas, quem realmente triunfou com o 25 de Abril e o 25 de Novembro foram os mesmos que cantam em Tarrafal que a famosa tortura do sono consistia em ser obrigado a dormir porque se queria direitos...