Wednesday, August 14, 2013

As irrevogáveis palavras dos nossos carrascos. 1/3

Ando a marinar este comentário há uns tempos. Inicialmente era para ser um compêndio de frases, do calibre de "se um sem-abrigo aguenta, porque é que os outros não aguentam" (não é bem uma citação de Fernando Ulrich, mas passa a ideia). No final acaba por ser um comentário ao mês de Julho, com poucas referências a palavras e mais a gestos que se tiveram e não tiveram.

Torna-se um exercício de adivinhação saber como Julho de 2013 será relembrado. Em parte porque poucos se lebram já de quem queria ir mais além do que a troika, de quem acha que se um sem-abrigo aguenta não ter nada, todos devem aguentar, quem acha que o nojo da política é ter participado em operações num banco privado que custou já aos contribuintes portugueses perto de 10 000 000 0000 (dez mil milhões) de euros.

É difícil saber o futuro, mas Julho de 2013 ficou indelevelmente marcado por uma série de acontecimentos que não deveriam ser esquecidos. O mais marcante terá sido a pequena guerra pessoal que Paulo Portas e Cavaco Silva, esses amigos de longa data, travaram. Consoante a leitura pessoal de cada um, assim será o vencedor, afinal em política todos ganham. Já o derrotado, e sendo certo que para cada vencedor tem de haver um vencido, também é em duplicado. Quem sai derrotado é a democracia portuguesa e a opinião que os portugueses têm da política (quando se pensa que não pode piorar, há sempre alguém que o consegue... e desta vez nem foram os jotinhas!).

Como catalizador para este sururu foi a demissão do Primeiro-Ministro de facto, Vítor Gaspar, que o fez deixando como lembrança uma bonita carta onde assume o falhanço a toda linha da orientação do Governo e das medidas tomadas. Até aqui apenas verdades de La Palice. Acrescentou ainda que estas são erradas, e esta constatação, vinda de um dos papagaios de serviço da comissão liquidatária do País, deveria ter sido bem mais explorada no mês que se seguiu, senão pela auto-intitulada oposição, pelo menos pela comunicação social. Só que depois das entradas e do prato principal, faltava ainda a sobremesa. No caso da carta, trata-se de insinuar o que só o mais emperdenido (por cegueira ou necessidade) larajinha ainda não percebeu: o primeiro-ministro de jure não passa de um fantoche, com alguém a manobrá-lo e desprovido de qualquer pensamento próprio e capacidades de liderança. Em Portugal isto passa usualmente por virtudes muito apreciadas, daí ficar a dúvida se a insinuação foi um insulto ou um elogio.

O que se passou no entanto foi que o de jure decidiu dar um ar de sua graça. Face ao reconhecimento, pelo génio que a traduzia, de que a sua linha orientadora havia falhado e as políticas seguidas estavam erradas, decidiu-se ele dar posse a quem pudesse garantir a sua continuaç
Ando a marinar este comentário há uns tempos. Inicialmente era para ser um compêndio de frases, do calibre de "se um sem-abrigo aguenta, porque é que os outros não aguentam" (não é bem uma citação de Fernando Ulrich, mas passa a ideia). No final acaba por ser um comentário ao mês de Julho, com poucas referências a palavras e mais a gestos que se tiveram e não tiveram.

Torna-se um exercício de adivinhação saber como Julho de 2013 será relembrado. Em parte porque poucos se lebram já de quem queria ir mais além do que a troika, de quem acha que se um sem-abrigo aguenta não ter nada, todos devem aguentar, quem acha que o nojo da política é ter participado em operações num banco privado que custou já aos contribuintes portugueses perto de 10 000 000 0000 (dez mil milhões) de euros.

É difícil saber o futuro, mas Julho de 2013 ficou indelevelmente marcado por uma série de acontecimentos que não deveriam ser esquecidos. O mais marcante terá sido a pequena guerra pessoal que Paulo Portas e Cavaco Silva, esses amigos de longa data, travaram. Consoante a leitura pessoal de cada um, assim será o vencedor, afinal em política todos ganham. Já o derrotado, e sendo certo que para vencedor tem de haver um vencido, também é em duplicado. Quem sai derrotado é a democracia portuguesa e a opinião que os portugueses têm da política (quanto se pensa que não pode piorar, há sempre alguém que o consegue... e desta vez nem foram os jotinhas!).

Como catalizador para este sururu foi a demissão do Primeiro-Ministro de facto, Vítor Gaspar, que o fez deixando como lembrança uma bonita carta onde assume o falhanço a toda linha da orientação do Governo e das medidas tomadas. Até aqui apenas verdades de La Palice. Acrescentou ainda que estas são erradas, e esta constatação, vinda de um dos papagaios de serviço da comissão liquidatária do País, deveria ter sido bem mais explorada no mês que se seguiu, senão pela auto-intitulada oposição, pelo menos pela comunicação social. Só que depois das entradas e do prato principal, faltava ainda a sobremesa. No caso da carta, trata-se de insinuar o que só o mais emperdenido (por cegueira ou necessidade) larajinha ainda não percebeu: o primeiro-ministro de jure não passa de um fantoche, com alguém a manobrá-lo e desprovido de qualquer pensamento próprio e capacidades de liderança. Em Portugal isto passa usualmente por virtudes muito apreciadas, daí ficar a dúvida se a insinuação foi um insulto ou um elogio.

O que se passou no entanto foi que o de jure decidiu dar um ar de sua graça. Face ao reconhecimento, pelo génio que a traduzia, de que a sua linha orientadora havia falhado e as políticas seguidas estavam erradas, decidiu-se em dar posse, para substituir o de facto, a alguém que pudesse continuar as políticas. Irritado com o ostracismo a que fora votado, o líder da oposição-no-governo decidiu demitir-se do seu cargo de ministro. Neste ponto começa aquilo que, dependo de se ser pobrezinho ou apenas brincar aos pobrezinhos, pode ser visto como uma farsa ou uma comédia. O de jure, provavelmente a mando do Papá Aníbal recusa-se a aceitar a irrevogável demissão do seu ignorado parceiro de coligação.

Aqui introduz-se a figura de Papá Aníbal, reconhecido criador de coelhos, um homem que, ao fim de quarenta anos de democracia apenas esteve em cargos de responsabilidade durante vinte, e que se assume como não político. (O falhanço das políticas de educação reflecte-se mais no facto de haver uma larga maioria que ainda acredita nesta cantiga, do que em resultados de exames.) Só que para não-político tem muito a ensinar de como fazer política aos coelhinhos do seu laranjal, mesmo no seu estado de pré-demência (ou amnésia profunda, conforme se queiram interpretar as suas lembranças sobre agricultura e mar). Por exemplo, no mesmo dia em que dá posse a um novo ministro, assiste à demissão de outro e age como se fosse tudo normal. Para ele até era, na volta, face à história de amizade que une Papá Aníbal e o neo-demissionário.


Aqui impõem-se um momento de reflexão, para que se perceba onde não está a democracia. Aquando das últimas eleições, os portugueses foram chamados a votar num programa eleitoral (se o fizeram ou não pertence ao reino do sucesso das políticas de educação). Dessas eleições resultaram um executivo em coligação e um programa de governo elaborado pelo primeiro. Um dos elementos desse executivo demitiu-se, meses depois de ter elaborado esse pedido (deve ter trabalhado à base de chicote no tempo intermédio), reconhecendo que as medidas tomadas e o rumo seguido se encontravam errados. Ou seja, face aos resultados práticos na vida dos portugueses, face ao descontentamento generalizado na sociedade e também na coligação governativa, o que o Papá Aníbal achou foi que não valia a pena perguntar aos portugueses se queriam continuar neste barco. A responsabilidade e a bondade de Papá Aníbal para com quem o rodeia, só precisa de ser avaliada quando se olha para a malta da SLN e as dificuldades por que passam.

Entretanto o de jure propôs uma reformulação total do barco. Vendo o que se escondia nessa irrevogável decisão, Papá Aníbal disse que não a aceitava, apelando a um sentido de responsabilidade e de forma alguma por qualquer sentimento vindicativo, e que se queriam mudar dessa forma que se entendessem com o terceiro partido que assinara o memorando, o partido do governo-na-oposição.

Se estava engraçadote, interessante ficou. O líder do partido da oposição-no-governo, caso as conversas corressem bem, ficaria enfraquecido de uma forma que poderia ser letal para o seu partido. Por outro lado o líder do partido do governo-na-oposição tem um perfil em todo semelhante ao do de jure, com igual, chamemos-lhe, espinha dorsal. Essa postura de espinha dorsal revela-se por aceitar as negociações sobre uma premissa inválida, e a quebra das mesmas assim que os seus papás acordaram da sesta em que se encontram, para lhe puxar as orelhas.

Para quem estranhou a questão da validade da premissa, será interessante que compare os últimos anos de políticas com o que se encontrava no memorando original. Quem ainda achar depois disso que o partido do governo-na-oposição ainda se encontra amarrado ao que quer que seja, so pode, lá está, demonstrar mais inequivocamente do que qualquer exame do secundário, o falhanço do ensino em Portugal.

Ora, regressado das Selvagens para junto dos selvagens, Papá Aníbal, que tinha a certeza de estar tudo a correr bem, acaba por dar posse ao governo que havia, uma semana antes, considerado uma má solução. Depois da traulitada dada na Democracia, nada como uma machadada de incoerência para sublinhar a sua opinião sobre esse aborrecimento que são as eleições. Não que devêssemos estar surpreendidos do homem que está perfeitamente "identificado e integrado no regime", aquele que vigorava na década de 50/60. Não sejamos no entanto muito duros com esse pensionista. Com os seus míseros 20 ordenados mínimos por mês o coitado deve perder noites e noites a saber como vai pagar a renda, o passe, as contas, os livros dos miúdos e todas as outras despesas com que os remediados como ele lutam. Ou isso, ou está-se simplesmente a cagar!

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