A gola impecável volta às trincheiras
Há meses - não tantos que já permitam a desmemória que desculpe a falta de vergonha - o mundano filósofo francês Bernard-Henri Lévy entrou pelo Palácio do Eliseu armado em André Malraux. Este, em 1936, mobilizou quem pôde para
derrubar um canalha, o general Franco. Três quartos de século depois, também Lévy incitou a França e a Grã-Bretanha a derrubar um canalha, o líbio Kadhafi. Poderíamos, aqui, apontar uma diferença de carácter: Malraux, além de incitar os outros a lutar, foi combater; já Lévy o único combate em que participou foi o de manter branca a sua célebre gola de camisa nas muitas conferências de imprensa que deu na fronteira da guerra. Porém, o principal da ação líbia de Lévy foi a estupidez: um ditador foi derrubado, mas sem plano B. A Líbia está desestabilizada até hoje e com ela arrastou vários países vizinhos (Chade, Níger, Mali...). Embora, há que reconhecer, a gola continue impecável. Em fevereiro passado ela foi vista outra vez, na Maiden, a praça de todas as sublevações, na capital ucraniana. Outra vez, o apelo: "Lutem! Lutem!", disse a gola. Pois eu desconfio. Sim, o que o Presidente ucraniano faz, virar as armas contra o seu povo, é inadmissível. Mas não gostei do apelo à guerra entre os ucranianos pró-União Europeia contra os ucranianos pró-russos. Pela razão primeira: a Europa não pode alienar a Rússia do seu destino comum. Mas também porque é indecente ver golas
impecáveis incitando ao sangue dos outros.
Para verificar em: A Batalha de Kiev em 70 fotos impressionantes.
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