Na Antiguidade, o
conceito que melhor descrevia a esperança de sobrevivência individual,
além da morte física, seria o de "imortalidade". Significando a
permanência de nomes e feitos gloriosos no tempo. A imortalidade seria a
veneração de uma memória através da perenidade de uma comunidade
cultural e política. Ora aquilo que a Europa culta aprendeu com o
colapso da Roma antiga é que até os impérios, mesmo os de mil anos, são
perecíveis. Hoje, numa Europa à deriva, com a promessa da unidade
solidária traída pelo regresso de uma perigosa mistura entre
incompetência e pulsão hegemónica, seria conveniente recordarmos que as
nações são mortais. Provavelmente, nunca desde as invasões francesas
esteve Portugal tão ameaçado como sujeito histórico. Contudo, entre 1807
e 1811, por entre cidades incendiadas e civis fuzilados, a existência
de Portugal nunca se encontrou verdadeiramente em causa. 300 mil
populares insurrectos tornaram a vida do invasor um inferno. Mesmo se
Napoleão tivesse vencido, Portugal ter-se-ia reinventado como potência
americana, a partir da corte no Brasil. Hoje estamos entregues a nós
mesmos. Sem recuo imperial nem aliados seguros. Mas o maior perigo vem
de dentro. De um Governo que bebe alegremente a cicuta num país que vai
vendendo os anéis e mutilando os dedos. Uma nação em hemorragia de
pessoas e riqueza, onde o Executivo organiza uma espécie de "liquidação
total" na festa dos mercados. Deveríamos estar a preparar alternativas
nesta hora de emergência existencial. Mas o que se discute na oposição,
com azedume e recriminação, são os lugares elegíveis nas listas de
deputados para a próxima eleição... Não é temeridade perante o risco.
Trata-se, antes, de uma crónica e letal ausência de lucidez.
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