Monday, November 25, 2013

As Listas de Alhos com Bugalhos

Todos os anos há um momento em que os jornais ficam em pulgas para poderem publicar as listas com os resultados das escolas nos exames nacionais. Cada um publicará a sua, conforme a sua linha editorial. Para os efeitos do que se segue, vou seguir a do jornal Público referente ao ensino secundário, lista que de resto acho muito bem arranjadinha, com possibilidade de ordenar por vários campos. Claro que nisto de listas, cada jornal faz a sua com os critérios que quer. Digo isto por não ter encontrado nenhuma definição dos crtitérios ou qualquer informação quanto à fonte dos dados.

No entanto há algo em que vou divergir da imprensa. Vou-me recusar a tratar aquela lista por ranking. Um ranking implica que haja uma relação entre as entradas da lista. Conforme elas têm sido divulgadas, estas listas com escolas e resultados querem estabelecer relações que não se podem estabelecer, caso se tenha alguma honestidade intelectual.

Serve a lista do Público para demonstrar isso mesmo. A lista referida tem duas colunas muito interessantes de analisar, são elas a coluna "Valor Esperado" e a coluna "Contexto" e correspondem à "média esperada de acordo com o contexto socioeconómico da escola" e ao "contexto socioeconómico a que a escola pertence respectivamente". Não se pense no entanto que o interesse destas colunas se fica pelo título. A quantidade, e a qualidade, do número de linhas que ficam em branco para estes indicadores diz-nos imediatamente algo. A falta de informação relativa à forma como estes valores foram obtidos e a ausência das fontes para esse cálculo, também.

Uma vistoria na diagonal diz-nos imediatamente que nenhuma escola privada tem valores para estas colunas. Uma análise menos superficial diz-nos que uma escola privada dependente do Estado também não. Neste ponto chego à conclusão que os dados para preencherem estas colunas não podem ser de fonte oficial, senão o Ministério teria em sua posse os dados que permitissem preencher estas colunas. Ou não? Quanto às escolas públicas, cerca de 30 não apresentam dados e salvo erro estas são oriundas das regiões autónomas.

Estas colunas são por si o motivo pelo qual não se pode chamar honestamente a estas listas de escolas um verdadeiro ranking, porque pretendem comparar o incomparável. É como fazer uma lista de compras, colocar o preço das coisas e no fim dizer "gosto mais de pêras". Qual a relação? Pois!

Ora, para se aferir alguma qualidade no ensino e poder ir em busca de boas práticas, não basta olhar à média, especialmente num mundo em que cada vez menos o grau académico em si garante o que quer que seja. Olhemos pois para as médias efectivas e para as médias esperadas. Obviamente apenas se pode falar de escolas públicas. Há por aí escolas (plural!) que conseguem neste campo uma disparidade a rondar os +3 valores. Por outro lado há aquelas que obtêm o simétrico -3. Estas diferenças já nos começam a dar indicações sobre a qualidade do ensino praticado nestas escolas. Estas diferenças se calhar também servem para se perceber porque as escolas que não são de todos (vulgo, as privadas) não apresentam dados nas colunas em questão.

Desde há alguns tempos que a única defesa da escola-que-é-para-todos é que não tem os mesmos "ovos", não está no mesmo contexto e não tem a liberdade que as escola-só-para-alguns tem. Nomeadamente não pode escolher os seus alunos, ao contrário dos colégios que se dão ao luxo de convidar alunos mais problemáticos a mudarem-se para a escola da sua residência, não podem ir buscar os melhores onde melhor lhes convém e a sua organização, desde turmas a número de alunos por turma, é ditada por uma besta sagrada, com umas luzes (na melhor das hipóteses) do que é tentar ensinar um grupo de crianças e adolescentes. Dessa forma, estas listas não passam de listas, que tanto podem ser ordenadas por ordem alfabética, como pela ordem das médias, porque as conclusões que se podem retirar são, rigorosamente, as mesmas. Exepto para as escolas-que-são-para-todos.

Aí sim, há algo que se pode e deve estudar. A capacidade de superar espectativas e de lutar contra tudo o que o que tem sido feito recentemente com vista a destruir o ensino-de-todos (funções que Crato tem desempenhado como nenhum outro desde Manuela Ferreira Leite ou Couto dos Santos) tem de ser valorizada. E arrisco dizer que, tentando o impossível, com os dados que disponho, há algo do que é feito na Escola Secundária Emídeo Navarro (concelho de Almada) que confere mais valor ao seu 10,41 (+0,80) do que o 10,86 (+/- ??) do Externato Frei Luís de Sousa, isto para falar de escola a menos de um quilómetro uma da outra.

Poderia dar mais exemplos. Poderia até ver como estes exemplos se encontram no ensino básico. Deixo-o para quem tiver interesse nisso, e daí ter dado a ligação no início do texto. Pensei em terminar com um desafio a que se veja o que fazem as escolas públicas com diferenças de +2 ou mais e que isso sirva de reflexão para que que têm -2 ou menos. Se não o faço é porque vejo um Ministério da Educação mais preocupado em destruir-se a si mesmo do que em melhorar aquilo que faz. Gostava de chamar aos arquitectos deste "educocídio" incompetentes, mas a reportagem da TVI "Verdade Inconveniente" mostra que isso seria desculpar aquilo que não passa de uma atitude premeditada. Os génios que nos vendem isto não são incapazes ou incompetentes. São pessoas na plena posse das suas capacidades, e como tal o que fazem é por maldade.

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