Thursday, September 30, 2010

O adeus de Sócrates

José Sócrates divulgou ontem um dos mais ferozes ataques ao bem estar português. Pela forma como o fez (e outros estarão mais aptos que eu para o julgar) acredito que lhe custou. Não sei se pelas medidas (como ele disse), se por perceber que perdeu assim grande margem de manobra para as legislativas, que se calhar até vão acontecer antes do esperado.

A receita com que os portugueses levaram ontem, é a receita que tem sido largamente recomendada aos países que se viram sobre enorme ataque especulativo na recente crise. Receita essa que tem produzido excelentes resultados, como o "milagre" Irlandês parece demonstrar, com o risco de entrar em nova recessão a ser mais alto que nunca! Numa coisa este Governo me pareceu acertado, e foi precisamente em não seguir escrupulosamente essas medidas. O resultado, conforme os dados cedidos pelo INE ao EUROSTAT indicam, são os que Portugal apresentava um reduzido crescimento. Seria porventura fraco face ao que os mercados esperavam, mas era dos países da zona de risco o único fora do vermelho.

A pergunta seguinte é: então porque continuava o nosso risco a subir?

Bom, em grande parte surge aqui a necessidade de protagonismo de alguns egos da política nacional. Um dos partidos trocou recentemente de líder. Com essa troca houve não só uma mudança de estilo, mas parece-me que também uma mudança de responsabilidade e de estratégia. Parece claro, agora que largos meses passaram que a estratégia da oposição seja a de criar um clima tão instável que o país tenha de ir a votos antes de tempo. Parece que foi conseguido! Depois de o Presidente, que sabe o impacto apaziguador (ou não!) que tal medida teria nos mercados, se ter recusado a dar esse docinho a um dos partidos que o apoiarão nas próximas eleições, foi a vez de se passar aos comentário na comunicação.

Quando penso no mês de Setembro, praticamente que não há um dia em que um determinado líder partidário não tenha vindo opinar, não tenha tido algo para dizer, não tenha apresentado uma medida, bastantes delas gravosas e lesivas para os portugueses. Todo este barulho de fundo contribuiu em grande parte para que a parca melhoria de Portugal ficasse afogada por um cenário de alta instabilidade política. Que conduzia semana após semana à redução da confiança dos mercados.

O cerco estava montado! Mais importante para o país do que as birrinhas de Passos Coelho (e de quem leva ou não para as reuniões com o Primeiro-Ministro) é saber o que foi dito pela OCDE ao Governo, que o levaram a mudar de política mais rápido que um piscar de olhos. É verdade que estas medidas chegam atrasadas, face ao que são as recomendações da comunidade internacional, mas não é menos verdade que ess(t)as medidas ainda não resultaram em mais nenhum país, e num caso específico até contribuem para agravar a situação. Sócrates sabe-lo, daí o ar quase lavado em lágrimas com que falou ao país, e sabe também que com estas medidas precipitou a queda do Governo e a impossibilidade de o PS ganhar as próximas eleições. Que lhe sirva o consolo do velho ditado que depois de mim virá, quem de mim bom fará!