Thursday, November 22, 2012

Privatize-se a outro Estado

 O momento da visita de Angela Merkel a Portugal levou-me a parar e sentar-me para escrever qualquer coisa para este moribundo espaço de comentário. O momento em si passa bem sem comentário, afinal os capatazes tudo fizeram para que a patroa evitasse o contacto com a sua obra. O motivo que me despertou foi o conceito que por aí anda de "menos Estado" e de "reformular o papel do Estado".

 Nunca fiz segredo de ser contra o programa de privatizações que se encontrava expresso no memorando de entendimento entre Portugal e os seus credores. O que não posso aceitar é que apenas se fale de empresas responsáveis por bens essenciais (como as águas) ou sectores estratégicos (como energia e transportes). Todos sabemos como a participação de entidades ditas privadas em aspectos essenciais da sociedade, como saúde e rodovias, é feita de forma perfeitamente transparente e sem dolo para o Estado, portanto o que pode correr mal? Nada, até porque o comprador actua de forma perfeitamente autónoma do vendedor, como a venda da EDP à China o demonstrou, ao serem nomeadas figuras inocentes no estado a que o país chegou como Eduardo Catroga ou esse exemplo de ascensão partidária que dá pelo nome de Celeste Cardona (cuja nomeação foi inclusivamente questionada pelo anterior citado). Penso que se costuma dizer qualquer coisa sobre César e a sua esposa, mas este Governo é de machos e portanto esposas de imperadores mortos não servem de exemplo.

 Noutro ponto, será de notar que eu falei em venda da EDP à China e não aos chineses, como se costuma dizer. Ora há uma diferença entre China e Chineses. É que a empresa que comprou a quota do Estado Português na EDP é uma empresa que pertence ao Estado Chinês ou dele depende para avalizar as suas despesas. E falar de vender património à China é falar de vender património a outra entidade muito democrática como o Sultanato de Omã.

 Até agora aprendemos o que o Governo entende por várias coisas. Entendemos que por menos Estado o que se entende é "outro Estado que mande em nós" e aprendemos quais os conceitos de liberdade de expressão e de opinião que querem aplicar a breve prazo em Portugal (aliás liberdade de opinião é outro sinónimo indígena para disciplina de voto, mas isso fica para outra altura).

 No capítulo do vender ao desbarato o que eu não percebo é porque o Governo não vai mais longe do que o que está no memorando. Em todos os outros artigos em que se sodomiza quem trabalha foram bem mais longe do que expresso no documento, porque não irem também neste? Tenho a certeza que imaginação sobre o que privatizar (o ar que respiramos, por exemplo) não faltará a quem se licenciou com distinção e sem equivalências no curso de Economia da Universidade Borjófona (dou um pacote de bolachas a quem adivinhar primeiro como cheguei a este nome), mas aproveito para sugerir algo mais original: privatize-se o Governo! Este Governo já mostrou que, no que toca a defender os interesses nacionais confia tanto em si que entrega sectores estratégicos a potências estrangeiras, no que toca a defender Portugal perante os seus credores, alinha com os credores em vez o fazer com outros países em dificuldades e sendo abertamente privatizado seria o paradigma do capitalismo que defende, ou seja, por uma vez na vida estaria a dar o exemplo daquilo que diz. As vantagens continuam e são extensíveis aos utilizadores. Tal como na escolha do serviço de internet por cabo, passaria a ter ao meu alcance a possibilidade de, passado um ano de fidelização, denunciar o contrato que me liga a este governo, escolhendo assim outro prestador de serviço, ao qual entregaria os meus impostos. Porque me custa muito, mas mesmo muito, pensar que quando vou ao supermercado, de cada euro que lá gasto, 25 cêntimos vão direitinhos para pagar as equivalências do Relvas ou os Audis do Assis.

 Claro que para se vender qualquer coisa é preciso haver quem compre e a questão é quem compra estes governantes? Tirando António Borges, o cordel que liga o fantoche ao saltimbanco, não vejo quem o faça. Borges disse que quem criticou as suas geniais medidas chumbava numa sua cadeira. Basta olhar para a História para perceber que o fundador da Ford chumbava na cadeira de Borges, e como o tipo da Ford até morreu na miséria e só deixou dívidas aos seus sucessores... Não, ninguém que saiba o que trabalhar é poderia comprar estes governantes. Se o Governo fosse um Conselho de Administração de uma empresa já teria sido demitido, de tão brilhantes serem os seus resultados. Infelizmente o Governo não está lá para prestar serviços a quem o elege e assim sendo, privatize-se, ao menos passamos sempre a poder denunciar o contrato não cumprido, sem que para isso dependamos de Cristo voltar à terra para animar a múmia de Belém!

Wednesday, November 14, 2012

Miguel Sousa Tavares explica o ajustamento em curso.


Com quase dois meses de atraso, segue a crónica de Miguel Sousa Tavares. Como me abstenho de seguir o que a pessoa em causa costuma dizer e/ou escrever, este texto passou-me ao lado e só agora as correntes de correio electrónico o fizeram chegar até à minha leitura. Caso a nossa classe dirigente se importasse connosco, seria um óptimo texto para lerem e reflectirem, mas como digo, isso era se nós contássemos para alguma coisa...

Yale, Campo de Ourique

Quando o Governo subiu o IVA de 13 para 23% na restauração, António, temendo as consequências da subida de preços no seu pequeno restaurante de Campo de Ourique, resolveu encaixar ele o aumento, sem o repercutir no preço das refeições. Aguentou até poder, mas mesmo assim a clientela começou a baixar lentamente: parte dela, que lhe assegurava umas trinta refeições ao almoço e metade disso ao jantar, era composta por funcionários públicos, que trabalhavam ali ao lado e cujos salários e subsídios tinham diminuído, como medida destinada a satisfazer as condições do “ajustamento” da economia. Quando reparou que Bernardo, um cliente fiel e diário, tinha passado a frequentar os seus almoços apenas três vezes por semana, António tomou aquilo como sinal dos tempos que aí vinham: sem outra alternativa, despediu a ajudante de cozinha, ficando apenas ele e a mulher no serviço de balcão e mesas e, lá dentro, um cozinheiro sem ajudante. Mas a seguir notou que também Carolina e Deolinda, que vinham almoçar umas três vezes por semana, agora vinham apenas uma e pouco mais comiam do que saladas ou ovos mexidos. Em desespero, teve de subir os preços e Eduardo, um reformado cuja pensão tinha diminuído, desapareceu de vez. Foi forçado a cortar drasticamente nas compras a Francisco, o seu fornecedor de peixe, e a atrasar-lhe os pagamentos: com cinco outros restaurantes, seus clientes, na mesma situação, Francisco viu o seu lucro reduzido a zero e optou por fechar a sua pequena empresa e inscrever-se no Fundo de Desemprego. Mais tarde, quando Gaspar, o ministro das Finanças, anunciou mais um aumento do IRS e declarou que o “ajustamento” não se faria através do consumo interno, também Bernardo desapareceu para sempre e, depois de três meses sentado na sala vazia, dando voltas à cabeça com a mulher e tendo ambos concluído que já era tarde para emigrarem, António tomou a decisão mais triste da sua vida, encerrando o restaurante Esperança de Campo de Ourique e indo os dois engrossar também o rol dos desempregados à conta do Estado. Apesar de ter gasto parte, agora importante, das suas poupanças de anos a anunciar o trespasse, António não conseguiu que ninguém lhe ficasse com o estabelecimento e não lhe restou alternativa senão entregá-lo ao senhorio Henrique, para não ter de pagar mais rendas. Quando desabou, demolidor, o novo aumento do IMI, já Henrique tinha desistido de conseguir alugar o espaço ou mesmo vender o imóvel: não pagou e deixou que as Finanças lhe levassem o prédio. 

Assim se concluiu, neste pequeno microcosmos económico de Campo de Ourique, o processo de “ajustamento” da economia portuguesa: vários trabalhadores reconvertidos à marmita, cinco outros desempregados, duas pequenas empresas encerradas e um senhorio desprovido da sua propriedade. Nessa altura, Gaspar, Rufus e Selassié deram-se conta, com espanto, de várias coisas que não vinham nos livros: que, apesar de aumentarem sistematicamente a carga fiscal, podia acontecer que a receita do Estado diminuísse; que os sacrifícios sem sentido implicavam mais recessão e a recessão custava mais caro ao Estado, sob a forma de mais subsídios de desemprego a pagar; que uma e outra coisa juntas não tinham permitido, ao contrário das suas previsões, diminuir o défice ou a dívida do Estado; e que o que mantinha o país a funcionar não eram as grandes empresas e grupos económicos protegidos, nem sequer os 7% de empresas exportadoras, mas sim os 93% de empresas dirigidas ao mercado interno, que respondiam pela esmagadora maioria dos empregos e atendiam às necessidades da vida corrente das pessoas comuns. E, passeando melancolicamente nos jardins de Yale, numa chuvosa manhã do Thanksgiving, Rufus e Selassié deram com um velho cartaz colado a uma parede, desde os tempos da primeira campanha eleitoral de Bill Clinton: “É a economia, estúpidos!” Miguel Sousa Tavares, no Expresso de 29 de Setembro, 2012

Monday, September 24, 2012

Grafias.

 Eu bem sei que é uma sublime missão a do mestre: e que é uma graciosa e amoravel idade a da infancia, e poucos melhor do que Augusto possuiam presente o ideal de uma e amenisavam á outra com branduras os amargores do penoso tirocinio; - mas que importa? nem por isso é menos real o supplicio. A cultura dos espiritos é como a cultura das terras. O lavrador exulta, estremece de prazer, vendo pullular do solo, arado e semeado de pouco, os rebentos do grão que o calor fez germinar, e volverem-se as folhas, estenderem-se e enflorarem-se os ramos, penderem os fructos e colorirem-se das tintas da madureza; mas, emquanto vergado, coberto de suor, arquejante, se afadiga a arrotear o terreno duro e quem sabe se ingrato aos seus cuidados, muita vez lhe fallece o alento, e se olha de quando em quando para o céo, não é para lhe agradecer com risos os gôsos que elle lhe dá; mas para lhe pedir, com lagrimas, a fôrça que lhe mingúa.

 De igual modo, se é grato ao cultor das intelligencias o vêl-as desenvolver, florir, fructificar; ardua, improba, desesperadora é muita vez a tarefa da sua primeira educação. É mister possuir um grande thesouro de ideal, para que o suave e risonho typo, que da infancia concebemos, não se transtorne na phantasia d'estas victimas d'ella, em não sei que figura diabolica e maligna, que lhes envenena todos os momentos de alegria.

 Além d'isso, o pobre professor de instrucção primaria, sobre quem pesam os mais fastidiosos encargos da instrucção, não pode ser comparado absolutamente ao agricultor do nosso simile; é antes o jornaleiro contractado por magro salario, para, á força de braço, lavrar solo, d'onde, mais tarde, romperá a vegetação, que elle não terá de vêr e que a outros concederá os gôsos e o beneficio. Venceu tambem o humilde professor, e por o mesmo preço que o jornaleiro, que não vão mais longe com elle as liberalidades dos nossos governos, venceu as maiores cruezas do magisterio; mas não verá tambem o resultado das suas fadigas. Fogem-lhe as intelligencias, que educou, justamente quando com mais amor as devia contemplar, e, se o destino reserva a qualquer d'essas intelligencias um futuro de glorias, raro é que volvam um olhar agradecido para as humildes mãos, que as sustentaram, quando ainda não tinham azas para voar.
 Quasi todos os grandes homens commettem esta ingratidão. Falam nos seus mestres de philosophia, de mathematica, de litteratura, e não salvam do esquecimento, pronunciando-o, o nome do primeiro mestre, do que os ensinou a ler.
 Considerações da ordem das que acabamos de fazer, quero acreditar, não são as que mais preocupam o pensamento da maioria d'esses podbres diabos, que, por mil réis annuaes, se deixaram ligar é atafona do ensino primario da aldeia; porém devem ser, além das miseria de tão mesquinha sorte, causas de grandes torturas moraes para alguma alma de instinctos e aspirações mais elevadas, que o destino amarrasse, como por escarneo, a este poste de expiação.
 Hoje um trecho do oitavo capítulo d' A Morgadinha dos Cannaviaes, segundo grafia em vigor em 1935. Alguma palavras adquirem aqui um ar de quase lingua estrangeira. Numa altura em que se falam de (des)acordos em redor da escrita, imagino o que teria sido o ruído nas ruas se os nossos avós tivessem tido o, na altura, privilégio de ir à escola.

Sunday, September 16, 2012

Por bem menos...

 Faz meses que não digo nada aqui. Em breve colocarei uma devida justificação, mas por agora apetece-me comentar o dia seguinte a uma das maiores manifestações de sempre no país a seguir ao 25 de Abril de 1974.

 Há já por aí quem, provavelmente assustado com o unânime repúdio ao governo, queira relativizar com um "mas não há alternativas" ou, já li isso, "esta é a via suave". Não, não! O que se passa é que ao fim de um ano de sacrifícios martelados ao som de "vamos conseguir", a única coisa que conseguimos foi estar mais longe de cumprir, estarmos mais pobres com isso e de nos dizerem que ainda vamos ter de perder mais. Não há como relativizar. Estas medidas são a receita, não para o desastre, que isso é o que vivemos, mas para um desastre ainda maior.

 Por menos do que se viu ontem Sampaio demitiu Santana. Por menos do que se viu ontem Sócrates apresentou a sua demissão a Cavaco e só não digo que Cavaco demitiu Sócrates porque por entre os apelos do Presidente à elevação popular (e agora não é preciso?) e às reuniões do mesmo com o então primeiro-fantoche (e agora?), Cavaco sempre pautou a sua actuação por nada fazer e nada decidir para tudo aceitar. Por menos que isso...

Monday, May 14, 2012

Décimo Quarto de Maio, ou duas semanas depois do Primeiro

 Quando vivia na Noruega, quaisquer compras de supermercados que quizesse não podiam ser feitas a domingos e feriados. No caso dos Domingos (ou feriados religiosos) havia sempre uma loja de conveniência, propriedade de um árabe, perdida numa rua secundária do centro da cidade, onde se podia comprar o pacote de leite de emergência ou outros bens de primeiríssima necessidade. Desconheço se hoje, passada que está uma meia dúzia de anos, as regras ainda são as mesmas, no entanto esta vivência teve o condão de despertar em mim uma certa necessidade de reflectir sobre a abertura de grandes superfícies aos Domingos. E, mais importante para o que se segue, feriados!

 A reflexão, não muito profunda confesso, prende-se com o facto de acreditar que devemos trabalhar para viver e não viver para trabalhar. Sou um crente que devemos dedicar tempo a actividades de lazer, à família, aos amigos e a nós próprios. Sou um crente que todos temos direito a estas actividades. Ora, para uma loja estar aberta ao Domingo (e feriados), tem de haver quem abdique do seu descanso em dias consagrados a esse hábito necessário e salutar ou a uma efeméride e aqui começa a discussão das grandes superfícies abertas ao Domingo e feriados.

 Certo dia passeava eu pelo centro de uma cidade do Norte de Portugal e constatei que a grande maioria das lojas estava fechada. Tratavam-se de estabelecimentos geridos em regime quase familiar, cujo dia de descanso era o Domingo. Por forma a competirem de forma equitativa com as grandes superfícies, teriam de estar abertos por períodos de tempo superiores a oito horas, sete dias por semana. Por outro lado, caso decidissem abdicar do seu descanso para trabalhar (ou porque queriam aumentar o volume de negócios, ou porque os tempos estão difíceis, cada qual escolhe a sua razão), perderiam o dia em que com maior probabilidade toda a família se poderia juntar. Para quem se pergunta porquê, basta pensar um bocado para notar que a discussão terá de ocorrer em torno do Sábado ou do Domingo, porque durante a semana as crianças estão na escola... Quem é apologista da família, da dignidade da pessoa humana e/ou da leal concorrência já percebeu que todos esses valores são minados quando a conversa é abrir grandes superfícies a Domingos e feriados.

 Ora, este meu quadro de valores deixou-me muito indeciso quanto ao participar na campanha que uma cadeia distribuidora realizou no passado feriado do 1º de Maio. A verdade é que quando temos a despensa cheia não há grandes dificuldades em manter princípios inabaláveis, o problema é quando a terra treme e a fome aperta! Ou por outra palavras, gasto em supermercados, por mês, sensivelmente pouco mais de uma centena de euros. Ou, nos termos da referida campanha, gastava metade e abastecia-me por inteiro. Ainda por outras palavras, enchia a despensa e ainda me sobrava para poupar/dar-me um miminho (riscar o que não interessa). Noutros termos, o que me sobraria dava para pagar o passe dos transportes ou o que gasto na farmácia a cada dois meses. Não se pense portanto que o meu dilema era sobre abrir uma loja numa garagem lá da rua, ou simplesmente ir passear para o supermercado. Havia um confronto claro entre aquele que acredito ser o direito de os trabalhadores do supermercado não terem de estar ali e aquilo que era a minha real necessidade de encher a despensa, uma vez que não eram compras acessórias que podia ter antecipado num dia com os mesmos custos (como o são as compras que faço ao Sábado ou à Sexta-feira, para não as fazer ao Domingo).

 Não me chocou a campanha de descontos. A referida distribuidora não foi a primeira a sediar-se num paraíso fiscal, não foi a primeira a abrir aos Domingos e feriados e não foi sequer a primeira a apresentar descontos deste tipo, com a vantagem que o desconto desta distribuidora não era discriminatório e não obrigava a fidelização.

 Choca-me que em nome do egoísmo toleremos e incentivemos uma lei que permite aos supermercados abrirem aos Domingos e feriados, mas isso não começou no 1º de Maio de 2012...

Wednesday, April 25, 2012

Miguel Portas 1958-2012

 Miguel Portas faleceu ontem, 24 de Abril. Apesar de ser esperado, face ao debilitado estado de saúde em que se encontrava, acho que ainda estou em choque com a notícia. Faltam-me palavras para descrever o que sinto, e outros que privaram com ele têm maiores capacidades de descrever o que era por trás da figura pública.

 Como figura pública ficam aqui as palavras do próprio, pelo próprio. Palavras do próprio que fazem acreditar que num mar de piratas ainda há pessoas de bem, responsáveis e com a consciência do que é o dever delas. Um exemplo para todos, independentemente da cor e das ideologias.


Thursday, April 12, 2012

Nação valente e imortal - Crónica de António Lobo Antunes na revista Visão

Cópia integral do site da revista Visão. Fala por si e não precisa de esclarecimentos.

Nação valente e imortal

António Lobo Antunes
8:40 Quinta feira, 12 de Abr de 2012



Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.

O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade às vezes é hereditário, dúzias deles.

Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão. O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.

Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente.

Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente, indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos. Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão, já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.

Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos por, como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano.

Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos.

Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar. Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.

Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.

Abaixo o Bem-Estar. Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros.

Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.

Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos um aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.

Monday, March 26, 2012

A Escória da Sociedade

Houve grande alarido nos comentários a notícias quando se soube que o autor dos atentados de Toulouse era um auto-declarado membro da Al-Qaeda e não um nazi. Houve grande alarido e essencialmente esse alarido era de indivíduos que quase exigiam um pedido de desculpas pela confusão e se queixavam de uma injusta perseguição.

Ora, como sabemos, esses indivíduos estão longe de ser inocentes e longe de terem as mãos limpas. Ainda não há muito tempo os vimos a condenar um acto bárbaro, atirando-o a terroristas islâmicos, para rapidamente virarem o discurso e elogiarem o seu correlegionário norueguês.

O La Stampa publicou a 22 de Março aquele que me parece ser um dos mais importantes textos sobre este assunto e eu transcrevo-o na íntegra, de acordo com a versão traduzida para português no Europress.


Neonazis e terroristas islâmicos, os nossos pesadelos geminados


Os primeiros suspeitos pelos assassínios de Toulouse e de Montauban foram três antigos paraquedistas neonazis. O massacre de Utoya começou por ser atribuído ao terrorismo islâmico. São dois rostos opostos da intolerância ao multiculturalismo que se confundem com frequência.


Afinal, foi um fanático de Alá que emergiu do inferno de Toulouse. Não foi um paraquedista neonazi que andou a ruminar nas entranhas obscuras da história de França, mas um soldado dessa intifada que é incubada quotidianamente nos subúrbios franceses.

Uma guerrilha surda que ganha dimensão, de Toulouse a Paris, nesses "territórios perdidos da República", como os batizou um famoso panfleto de denúncia do antissemitismo vulgar que reina nas escolas suburbanas.

É este mal obscuro, particularmente tenaz em França, que liga as duas pistas exploradas pelos investigadores e a opinião pública, nos dias manchados pela loucura assassina: três jovens militares (de origem norte-africana) mortos a sangue-frio, outro gravemente ferido, e mais quatro pessoas (três crianças e um homem) perseguidas e abatidas como animais, no colégio judaico Ozar-Hatorah de Toulouse, a “cidade rosa” que alberga o túmulo de São Tomás, o mais ponderado dos filósofos cristãos.

Um outro culpado
Pensou-se inicialmente que o assassino seria um dos três paraquedistas expulsos do 17º regimento de Montauban devido às suas simpatias neonazis. Os jornais publicaram uma fotografia dos três homens a fazer a saudação hitleriana, envoltos numa bandeira com a cruz suástica.

Jovens fanáticos, franceses, brancos. Tinham a biografia típica do assassino, aquele que se vinga dos irmãos de armas que o denunciaram, e abate três soldados de origem magrebina, antes de perseguir os judeus numa escola. O protótipo do ativista do partido de Le Pen – o que não significa que todos os eleitores dos Le Pen, Jean-Marie e a filha Marine [candidata da extrema-direita à presidência francesa], sejam assassinos em potência.

A realidade acabou por apontar outro culpado, Mohamed Merah, francês de origem argelina ("imigrante de segunda geração", segundo a nomenclatura em uso), que, há uma da manhã de ontem, telefonou para o canal de televisão France 24, a revelar as razões para tal atrocidade à jornalista de serviço, Ebba Kalondo – uma mulher de ascendência africana (estamos numa sociedade multiétnica) de voz doce e tranquila.

Mohamed Merah disse ser filiado da Al-Qaeda e pretender "vingar os nossos irmãos e irmãs da Palestina", denunciando a lei que proíbe o véu integral para as muçulmanas, bem como a participação do exército francês na guerra do Afeganistão.

Como é possível dois cenários tão diferentes, se não mesmo opostos, poderem ter sido encarados para explicar estes massacres? A resposta é que ambos eram igualmente plausíveis. Tanto o terrorista islâmico como o paraquedista neonazi pertencem à escória da sociedade, são dois pesadelos opostos e que, no entanto, coabitam e não se neutralizam um ao outro, antes se reforçam mutuamente.

O mesmo curto-circuito que em Oslo
O mesmo curto-circuito lógico produzido em Toulouse havia já acontecido em julho passado, em Oslo, após o massacre perpetrado pelo fanático Anders Behring Breivik: oito mortos na explosão de uma bomba e 69 mortos a tiro num acampamento de jovens sociais-democratas.

A primeira hipótese foi a de um ato perpetrado por terroristas islâmicos contra jovens ocidentais. Ora o culpado era um norueguês loiro de trinta anos, que se autointitulava fundamentalista cristão e pró-israelita, hostil ao multiculturalismo e ao islamismo. Quis atingir os jovens socialistas, que considerava responsáveis por uma imigração muçulmana maciça.

Dois pesadelos diferentes, portanto, mas complementares e compatíveis, ao ponto de os políticos terem suspendido durante algumas horas uma campanha presidencial especialmente acirrada. Por respeito pelas vítimas, evidentemente, seguindo as normas de vida que, em França, são ensinadas na escola.

Mas também para dar tempo para se entender, para evitar cometer erros. O tom é firme, [o Presidente Nicolas] Sarkozy fez do tema da imigração e dos estrangeiros o seu cavalo de batalha no combate a Marine Le Pen, ao ponto de o Wall Street Journal o apelidar "Nicolas Le Pen".

O Presidente promete aos franceses uma França mais forte e mais fechada. Não descartou a suspensão do Tratado de Schengen, de livre circulação de pessoas entre países da UE. Uma perspetiva que deixou Angela Merkel bastante indisposta, tirando-lhe a vontade anunciada de participar nos comícios eleitorais de "Sarko”.

É este o clima que prevalece hoje nessa França onde Mohamed Merah, célula adormecida e solitária da Al-Qaeda a viver há vários anos no bairro do Mirail, em Toulouse, decidiu passar à ação. Podia ter sido um paraquedista neonazi. Mas acabou sendo o fantasma de Bin Laden. O que não tranquiliza ninguém.

Thursday, March 22, 2012

A História repete-se...

 Não sei o que passa pela cabeça de um polícia que vê numa câmara fotográfica uma profunda ofensa a qualquer coisa e que o leva a agredir, porque não tem outro nome, o portador dessa câmara. Lembro-me de em 1994 o ter visto na Marinha Grande. Nunca esperei voltar a vê-lo na minha vida. 

 Na foto, Patrícia Moreira, fotojornalista da AFP. Ela é apenas um sinal de que não somos a Grécia. Aqui há uma máquina afinada que faz tudo parecer bem, que faz tudo parecer normal, que nos diz que não estamos a sofrer.





Friday, February 10, 2012


Então, recapitulemos. A agência de rating Moody's baixa a nota da Grécia; as taxas de juro explodem; o país declara falência; a população revolta-se; o exército toma o poder, declara-se o estado de urgência e um general é entronizado ditador; a Moody's, arrependida pelas consequências, pede desculpa... "Alto!", grita-me um leitor, que prossegue: "Então, você começa por dizer que vai recapitular e, depois de duas patacoadas que todos conhecemos, lança-se para um futuro de ficção científica?!" Perdão, volto a escrever: então, recapitulemos. Só estou a falar de passado e vou repetir-me, agora com pormenores. A Moody's, fundada em 1909, não viu chegar a crise bolsista de 1929. Admoestada pelo Tesouro americano por essa falta de atenção, decidiu mostrar serviço e deu nota negativa à Grécia, em 1931. A moeda nacional (dracma) desfez-se, os capitais fugiram, as taxas de juros subiram em flecha, o povo, com a corda na garganta, saiu à rua, o Governo de Elefthérios Venizelos (nada a ver com o Venizelos, atual ministro das Finanças) caiu, a República, também, o país tornou-se ingovernável e, em 1936, o general Metaxas fechou o Parlamento e declarou um Estado fascista. Perante a sua linda obra, a Moody's declarou, nesse ano, que ia deixar de dar nota às dívidas públicas. Mais tarde voltou a dar, mas eu hoje só vim aqui para dizer que nem sempre as tragédias se repetem em farsa, como dizia o outro. Às vezes, repetem-se simplesmente.

Wednesday, January 18, 2012

Ser Competitivo

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Particularmente curioso de combinado com o seguinte conselho, da autoria das simpáticas vozes que nos guiam. (retirado do site do DN de dia 17 de Janeiro)

DANIEL BESSA

"Portugal tem que ser um dos países mais baratos"

por Nuno AguiarOntem
"Portugal tem que ser um dos países mais baratos"
Portugal deve procurar manter a sua mão-de-obra o mais barata possível, de forma a manter-se competitivo no seio da zona euro, defendeu hoje o economista Daniel Bessa.
"No sector dos serviços é importante que Portugal seja dos mais baratos da área euro", afirmou durante a sua intervenção no Congresso anual da APED. "É importante que os recursos humanos mantenham alguma qualificação e que fiquemos entre os mais baratos."

Wednesday, January 11, 2012

Os Pintelhos Contra-Atacam

 Em Novembro comentei aqui o momento em que Eduardo Catroga revelava que hoje em dia os jovens já não desejam tachos. Claro que para se querer algo convém haver e, no que a tachos diz respeito, a geração dos Catrogas e Silvas (e companhia [i]limitada) apoderou-se de tantos que duvido sinceramente que haja um púcaro de barro para distribuir fora da pandilha.

 Eduardo Catroga, o homem que o actual Primeiro-Ministro escolheu para negociar com a chamada troika as medidas de austeridade (e que mesmo assim o actual Primeiro considera - ou dizem-lhe para considerar - ficarem aquém do necessário) sabia de facto do que falava em ambos os casos.

 No que se refere a privatizar, quando defendeu a privatização da EDP fê-lo porque é mais fácil desculpar a sua  entrada (e dos seus correlegionários) numa empresa onde o Estado (leia-se todos nós) não tem mais nada a dizer, pese o facto de ocupar uma posição monopolista no mercado livre da electricidade em Portugal.

 No que se refere a Estado Social podemos abordar desde o prisma sério, segundo o qual um indivíduo que aufere de reforma cerca de vinte (20) salários mínimos vai acumular a este pecúlio mais cerca de noventa e seis (96). Para quem não percebe se a conversa deve começar pelo salário de que vai auferir, ou a pensão com que vai acumular, eu proponho que se discutam não números mas verbos. No caso o verbo acumular e como se permite (a alguns) acumular reformas e salários, em muitos casos ambos a roçar o pornográfico. 

 No estado normal das coisas, se alguém está a exercer uma actividade remunerada, não deveria ter direito a reformas equivalentes a vários salários mínimos, muito menos pagas pelo Estado (leia-se todos nós). Numa situação de crise económica, esta limitação deveria ser ainda mais zelosamente inspeccionada.

 Por outro lado, numa redução ad absurdum, o facto de Catroga e correlegionários serem os escolhidos de ocasião para fiscalizarem os negócios da China vem contribuir indirectamente para o desemprego jovem. Quantos e quantos meninos das jotas ficaram por servir nesta distribuição de arroz? De facto os jovens de hoje não podem esperar tachos, diria mesmo que nem tigelas de arroz, enquanto houver por aí uns funileiros a fazerem-nos à sua medida... Mas isso, como Catroga diria, são certamente pintelhos!

 No meio deste burburinho todo há no entanto uma mensagem que nos mostra que Catroga é afinal uma pobre alma altruísta que pensa em todos nós. Ao afirmar que
“50% do que eu ganho vai para impostos. Quanto mais ganhar, maior é a receita do Estado com o pagamento dos meus impostos, e isso tem um efeito redistributivo para as políticas sociais”
Catroga desculpa o seu ordenado e em nome da saída da crise quase que nos encoraja a pedir que seja aumentado.

Sunday, January 1, 2012

O País tem (de facto) uma dimensão diferente da crise que o varre.

 O Fantasporto decidiu promover um concurso literário. Até aqui é apenas um evento cultural a querer diversificar. Claro que um bom concurso com a chancela de um marco cultural não seria um bom concurso se não desse azo a azias e alvoroços póstumos.

 Ora depois do sururu que a escolha deu, entrei no ano a saber que:

Um grupo de independentes decidiu promover o Concurso de Contos de Ficção Científica –rejeitados do Concurso de Contos de Ficção Científica Fantasporto 2012, tendo em conta que foram mais de cem autores, de quatro países, espalhados por três continentes que submeteram os seus trabalhos, e pelo facto de apenas seis deles irem ver os mesmos publicados, concluímos que seria um prejuízo maior o desaproveitamento de noventa e quatro trabalhos, trabalhos esses, um bom número deles pelo menos que em mais que um local foram considerados de qualidade acima da média, pelo que se pretende assim resgatar os melhores do anonimato (...).

 (Conforme lido no, criado para o efeito, blog Gaitzetsi.)

 Com tal parágrafo introdutório, tive mais uma confirmação que a dimensão da crise global, tem em Portugal reflexo noutras actividades. Normalmente recomendo umas águas minerais ou sais de fruto para quem sofre deste mal. Como estamos a recuperar do Natal e Ano Novo apenas posso especular que para as bandas donde se escreveu tal prosa, há muito se encontram esgotadas...