Wednesday, July 28, 2010

Em Brasa

Certo dia num café de uma aldeia, cujos terrenos haviam sido lavrados recentemente por um incêndio florestal, ouvi um dos presente afirmar que "no dia em que se acabarem os bombeiros acabam-se os fogos".

Passados alguns anos, o Concelho onde passei grande parte das minhas férias foi vítima ele de um fogo que consumiu pouco menos de metade da sua área florestal e cercou várias aldeias. Tudo seria irrelevante se o referido incêndio não tivesse começado ao lado de uma albufeira cheia, onde um (e apenas um) helicóptero prontamente destacado teria resolvido a questão antes de se tornar algo dantesco.

Tudo são factos distintos, mas será que ao fim de tantos anos de flagelo, não vai sendo altura de deixar de entregar a protecção florestal a grupos de estudantes de férias e obrigar quem anda nas carrinhas vermelhas a preparar-se como deve ser. Nem que seja para que passem a fazer algo mais do que ir lá com as mangueiras para o rescaldo...

Tuesday, July 20, 2010

A Proposta


(in Henricartoon 16/Jul/2010)

A única incorrecção do cartoon acima reproduzido é que o casamento parece mais do que certo. Ou será que a aquela declaração de amor, encapotada de revisão constitucional, afinal não é uma declaração de amor e tão só um affair?

Monday, July 19, 2010

Conta-me História(s): sobre inocência e indecência.

Ricardo Araújo Pereira começa uma das suas crónicas na revista Visão do seguinte modo:

"'A História repete-se, primeiro como tragédia, depois como farsa'. Aqui está mais uma frase de Marx que demonstra o modo como, em certos aspectos, o seu pensamento está desactualizado ou incompleto." (in Boca do Inferno, 24 de Set de 2009)

Continua depois, referindo-se ao Watergate português, que de resto foi muito mais útil para humoristas do que para jornalistas.

O motivo deste início prende-se com o imenso barulho que tem surgido a propósito de uma revisão Constitucional há muito desejada por alguns sectores da sociedade, em particular aqueles que vivem à custa da exploração dos outros e que não são aquilo a que se pode chamar de inocente no actual cenário de crise económica.

Uma revisão atenta de alguns episódios históricos chama-nos a atenção para o facto de, em momentos de crise acentuada e falta de pão na boca, seguir a primeira pílula dourada pode, a longo prazo, ter consequências que não só nos prejudicam, como podem mesmo envergonhar-nos.

Certamente que quem, no nascimento desta nossa centenária República, andou a louvar os heróis da mesma, não contava que esses heróis depressa se perdessem em tricas e questiúnculas. A verdade é que ainda a República não era uma adolescente e já os militares marchavam de Braga, a 28 de Maio de 1926, para porem o país na ordem, dando início à Ditadura Militar que só acabaria com a instauração (oficial...) do Estado Novo, com a Constituição de 1933.

1933 foi de resto um ano muito bom para os povos em crise. Numa Alemanha de rastos e humilhada, como resultado do acordado em Versalhes, um jovem político de ascendência austríaca é nomeado Chanceler alemão, após uma votação deveras favorável do seu partido. O jovem chamava-se Adolf Hitler, e o seu partido era o Nacional-Socialista, Nazi para os amigos!

No entanto em 1933 também aconteceram algumas desgraças. Em particular o New Deal do presidente Roosevelt. Uma consulta rápida aos meus apontamentos do nono ano revela qualquer coisa como uma aposta em grande obras públicas, controle de preços e parece que diminuição do horário de trabalho e da idade da reforma, parece que como forma de criar mais emprego. Na mesma América, uns anos antes, havia um fulano que como forma de aumentar a sua fortuna pessoal, deu aumentos ao seu pessoal e investiu na sua especialização. Parece que se chamava Ford e o seu apelido nunca terá sido associado à marca de calhambeques que produzia.

Os perigos que se abatem sobre Portugal nos próximos anos não são novos. A humanidade já passou por eles. Nós já passámos por eles e esse é o primeiro sintoma de que algo está profundamente errado.

Já no plano das curas, temos internamente a tentativa de limpar da Constituição todo aquele lixo dos tempos em que a esquerda se preocupava mais com 'quem vai aos bolsos a quem' (por oposição com o actual 'quem dorme com quem', para não mencionar aqui actos sodomitas...). Lixo como o direito à saúde, à educação e até a alguma justiça, ou a necessidade de equilíbrio político (em abono da verdade, a queda de um Governo implica a queda de um Parlamento e um acto eleitoral) A curiosidade é que isso nos deixaria ao nível social da América onde se iniciou a actual crise (e a de 1929 também!), com um sistema social ainda mais precário do que o do Portugal de 1933, mas com um presidente (do Conselho dirão algumas vozes...) com poderes equivalentes. Pedro Passos Coelho defende estas propostas, resta saber se os portugueses, que graças a Sócrates podem saltar o nono ano, vão na cantiga...

Thursday, July 15, 2010

Vodafone, Fodavone; Telefónica, Telefódica! (Contém linguagem verdadeiramente badalhoca!)

Com o fim do Campeonato do Mundo de futebol regressa-se à normalidade. Com a nossa eliminação precoce já faz uns tempos que andamos entretidos com outros temas. Portagens, companhias de comunicação e futebol. Estranhamente, este ainda muito, muito pálido. Tão pálido como o tom de verde que se prepara este ano para as bandas de Alvalade.

A propósito das escolhas tácticas do Queiroz andei a rever uns videos de jogos entre Benfica e Sporting. Jogos destes são muito mais que um jogo de futebol. O Benfica-Sporting (e/ou vice-versa) é apenas e tão só o duelo mais apaixonante do futebol planetário (também não faço as coisas por menos), e não há 'café com leite e cestas de fruta' que provoquem o contrário. Ou será que há? A julgar pela amostra de pré-temporada (até ao momento!), parece que se vai tornar um daqueles dérbis em que um clube pequeno tenta fazer mossa num maior. E quem perde é o futebol português! De resto é triste ver um clube histórico ser, no sentido figurado, sodomizado por um clube de figurados gorilas, fornecedores de lacticínios e plantadores de pomares... Se no final da época tiver de escrever algo a elogiar o bom trabalho desenvolvido no clube com a melhor massa adepta portuguesa (ou, vá lá, a menos arruaceira), fá-lo-ei com muito gosto, mas para isso acontecer, muito terá de mudar!

Quanto às portagens já me exprimi num post anterior e pouco mais há a acrescentar do que, há hora a que escrevo, ainda decorrem as negociatas para saber em que moldes se vai assaltar o bolso esburacado dos portugueses.

Finalmente as companhias de comunicação! O insustentável da situação em Portugal, praticamente pode ser visto neste caso particular. Ao que parece, a PT e a espanhola Telefónica são donas, em partes iguais, da brasileira Vivo. Brasileira que opera no Brasil. Que é actualmente um dos principais actores na cena mundial. Com um mercado crescente e sedento na área das telecomunicações. Claro que em tempos de crise, a Tele-parceira fónica também ficou mais sedenta e vai de armar uma operação telefódica. Ora o Governo, num acto de aparente sanidade, deciciu fazer uso de uma ferramenta, muito contestada por quem anda de dentes afiadinhos, para vetar esta real Foda. Para a oposição (e para o tele-parceiro) tal acto é inadmissível. Para os 'investidores', figuras nebulosas e indefinidas, entre os quais desconfio que alguns tanto o são da PT como da Telefódica, também. E para alguns políticos, chamemos-lhes genericamente "Miguel de Vasconcelos" foi a hora de ir apaparicar o prato que lhe dá de comer. Croissants, provavelmente!

Na verdade, os resultados da exploração da Vivo pela PT, dificilmente entrarão nos bolsos do comum dos portugueses, mas a verdade é que a manutenção daquela posição, por uma empresa que ainda faz entrar 'algum' nos cofres do estado, permite evitar que ainda se tire mais dos bolsos dos Portugueses! A verdade é que quem mais se insurge contra a posição do Governo são os equivalentes do século XXI aos que nas Cortes de Tomar, em 1581, aclamaram Filipe II (de Espanha). A memória portuguesa pode ser (e é) curta, mas a prova mais acabada do falhanço de tudo quanto se tem feito em políitica de educação, está patente neste caso: não sendo necessárias padeiras, é importante que não se confunda Miguel de Vasconcelos com Egas Moniz. O primeiro era um investidor da Telefódica, o segundo um homem de príncipios, como há muito anda arredado do "jardim à beira mar plantado"...

Friday, July 2, 2010

CHIPalhada à Portuguesa

A questão do chip (ou não) nas SCUT, as auto-estradas sem custos para o utilizador, parece ter chegado ao fim. Tendo começado com a vontade do Governo em, ao abrigo do PEC, começar a cobrar algumas. Todas a Norte. Em particular, todas em redor do (Grande) Porto.

Ora esta vontade, expressa no PEC, não tem origem no PEC. Vinha já expressa no Programa de Governo, que é como quem diz: foi um dos motivos pelos quais o Governo foi democraticamente eleito! Assim sendo, o sururu que provocou a nível nacional é estranho.

Das poucas vezes que me desloquei ao Porto, para lá da simpatia das gentes e da qualidade generalizada do que se come, saltou-me à vista mais duas coisas. A primeira é que a pedra escura dá à cidade um tom pesadão. A segunda, que existem por lá auto-estradas de três (e quatro?) faixas, em excelente estado de conservação que ninguém paga.

Em Lisboa, por outro lado, temos a A8 (paga), a A9 (paga), a A5 (paga), a A2 (paga) e a A12 (paga) que eu me lembre... Repararam no denominador comum? Pois! Pode-se ainda referir que a A2 e a A12 cruzam, cada uma, uma ponte. Sabem quantas pontes são pagas no Porto? A do comboio/metro/eléctrico!

Face a esta gritante injustiça havia obviamente dois caminhos: ou pagam todos, ou não paga nenhum. Nesse jeito que é bem nosso, paga tudo! Claro que para quem tem de começar a pagar para andar na estrada, isso parece injusto. Claro que eu até preferia que ninguém pagasse, mas como para alguns o que está a sul do Douro é tudo igual (dunas de areia?), não é de estranhar que a única solução de compromisso seja a de considerar igual uma qualquer AE de acesso ao Porto, com uma AE que visa essencialmente evitar a desertificação do interior, ou uma que visa reduzir a circulação por vilas e aldeias, com os inerentes resultados na saúde dos locais e na sinistralidade rodoviária.

A partir deste momento, e caertamente já a pensar nos directores que irão nomear na próxima legislatura, os dois partidos com maior representação parlamentar começaram a discutir como pagar. Bom, 'como' não. Para um partido (o que se auto-intitula o "maior" da oposição) havia ainda que discutir 'o que portajar', face à injustiça gritante que se verificava em portajar apenas o acesso a um grande centro urbano. O resultado foi essa solução de consenso que hoje vem na maioria da comunicação social: portaja-se tudo, mas o chip é só para quem quer!

Traduzindo o acordo ficamos assim: quem queria portajar uma parte, acaba a portajar o todo e, como tal, a ter mais receita. Quem diz que o actual governo é mau e injusto, acabou a fazer sofrer 'o justo pelo pecador'. Será esta alternativa melhor do que o que temos, ou será mais do mesmo? (Quase que arrisco perguntar se será ainda pior...)