Thursday, June 25, 2015

Dramas...

Dramas... Assim mesmo, com reticências e um revirar de olhos que as limitações do título não me deixam. Alguma imprensa e alguns comentadores (não vou dar aqui publicidade a ninguém, mas é só procurar) achincalharam ao longo da semana passada o partido/movimento Livre/Tempo de Avançar (L/TA) por realizar as suas directas e os dois candidatos mais mediáticos, Ana Drago e Rui Tavares, correrem o risco de ou não serem nem cabeças de lista, ou nem sequer, no limite, constarem das listas por Lisboa.

O tom com que o diziam davam a entender que seria um drama para tão jovem movimento. Drama é não se saber em quem se vota e já por um bom par de vezes deixei gente de cara à banda quando lhes transmiti que não votaram em quem pensavam. É verdade! Durante uma campanha eleitoral vemos muitas caras na rua, mas há sempre aquela figura central. Vamos considerar o actual parlamento. Nas legislativas de 2011 a votação deu, por ordem decrescente de votos totais, PSD>PS>CDS>CDU>BE e por aqui ficamos no que à representação parlamentar diz respeito. O «drama» aqui está em saber que, quem votou nos líderes, nas figuras que deram a cara foram os distritos de Vila Real>Castelo Branco>Aveiro>Lisboa>Lisboa. Ou seja, caro amigo, se não está num destes distritos e votou na figura quem andava a aparecer na comunicação social, tenho a dizer-lhe que afinal não, não votou nessa figura, votou sim noutra, consoante o seu distrito. Se estava distraído no dia do voto e se esqueceu de ver as listas afixadas na mesa de voto, consulte aqui quem era o cabeça e lista.

Entretanto os «vistosos» Rui Tavares e Ana Drago lá foram eleitos para liderar a lista por Lisboa anulando a perspectiva do «drama» para já. Acaba por ser elogioso. Um partido sem representação parlamentar consegue ser já um ódio de estimação de  comentadores. Se eu fosse dado a teorias da conspiração diria que alguma coisa devem estar a fazer bem.

Monday, June 22, 2015

Novo mundo velho

Na semana passada foi divulgada uma sondagem que coloca a coligação ligeiramente à frente do PS.

Em oito meses, o PS de Costa é apanhado pela coligação
(via DN.pt)

Há uns tempos dizia eu, no meu pequeno círculo, que se o PS não encontrasse um rumo estaríamos à beira de ver em Portugal um cenário semelhante ao que se verificou nas eleições do Reino Unido. O que estas sondagens parecem indiciar é precisamente esse rumo.

Denote-se que isto não tem nada a ver com «carisma». Nisso de carisma confesso que é difícil resistir ao barítono canto da sereia (passe a contradição) que nos governa, no entanto as pessoas quando votam fazem-no, como o João Miguel Tavares já referiu algumas vezes no Governo Sombra, com a carteira. O que o PS está com dificuldades é em passar uma imagem que será diferente. A mesma sondagem diz-nos isso mesmo.

Em oito meses, o PS de Costa é apanhado pela coligação
(via DN.pt)

É certo que uma sondagem em termos absolutos não nos diz nada sobre a distribuição dos deputados (a título de exemplo, se aqueles 3% dos «Outros» forem todos em Lisboa, estão ali camuflados 1/2 deputados, se forem em Bragança nenhum), mas de qualquer das formas há motivos para preocupação, mesmo para quem não vota PS e procura uma alternativa.

Sejamos francos, não há, com base nestas sondagens (para não dizer no senso comum), alternativa viável que não passe pelo PS. Não é uma questão de cedências ideológicas, é uma questão de número de deputados. Urge portanto, se de facto há a vontade de mudar alguma coisa, em começar a mostrar o que se quer mudar. Têm surgido, no panorama português, novas formas de se encarar a vida pública, mas carecem essas formas da visibilidade que granjearam forças, digamos, não-clássicas noutros países. Perguntava-me um amigo há dias porque não havia em Portugal um Podemos, um «cinco estrelas» ou um Syriza. Quando lhe respondi que haviam ficou surpreso, depois tive de lhe explicar que tirando a divulgação na internet não passam de notas de rodapé na restante imprensa.

Para estas forças políticas é esta a barreira que é preciso ultrapassar. Há que sair da «zona de conforto» das redes sociais e conseguir chegar à restante população. No caso do PS, urge clarificar em que é diferente da coligação. Urge, se pretendem mesmo ser governo, diferenciarem-se substantivamente da coligação. O que até agora foi apresentado não é carne nem peixe (e com isto não quero dizer marisco). Os votantes começam a perceber isso.

De um ponto de vista puramente cínico esta queda do PS é a maior herança de Seguro. Poucos viram nas directas do PS uma presente envenenado. Na altura, bastava «andar calado» até às legislativas para se receber o poder no colinho, com as primárias foi necessário abrir a boca antes de tempo. Costa atolou-se no que disse e não disse, a coligação começou desde logo a marcação e o resultado está à vista. Que os portugueses votem em quem diz tudo e o seu contrário é um detalhe, uma repetição de 2011. Que ninguém consiga com relevo desmontar isso, esse é o verdadeiro drama.