Monday, November 22, 2010

Bolonhesa à Portuguesa

Há mestrados que podem custar mais de 30 mil euros, in Público 22-Nov-2010

O título deste comentário de hoje é uma apropriação do título de um ciclo de conferências organizadas na minha Alma Mater, nos idos de 2003/2004. Já nessa altura vários alunos avisavam para o que se pretendia com a implementação do Processo de Bolonha em Portugal: fundamentalmente aumentar aquilo que se cobrava pelos cursos.

Na memória desses tempos, surge como figura querida (ou nem tanto) um tal de Pedro Lynce, ministro de Durão Barroso, que alterou, entre outras coisas, o valor das propinas. Para quem se lembra do barulho de fundo que havia antes dessa alteração (o valor era de um salário mínimo anual), lembra-se certamente que havendo queixas nunca houve um choradinho. Após essa alteração, as universidades poderiam passar a escolher qual o valor da propina a cobrar, tendo este valor de se encontrar entre 1,5 e 2 salários mínimos (os valores podem variar um pouco, mas para exactidão consulte-se os DRE). Sendo que em ambos os casos haveria um maior esforço por parte de alunos e respectivas famílias, para as Universidades as dificuldades de financiamento levaram, na grande maioria dos casos, à escolha da propina máxima.

Portugal tem, na sua milenar história, vários exemplos de como adapta comidas aos seus gostos particulares. Um desses casos é o esparguete à Bolonhesa. Correndo o país de lés-a-lés, somos confrontados com uma pratada de esparguete coberta com carne picada. Enquanto o valor degustativo não está em causa, a verdade é que esse prato fere a mentalidade de qualquer bolonhês confrontado com esse prato.

Da mesma forma que o que se fez com o denominado Processo de Bolonha faz (ou deveria fazer) com quem conhece os documentos que saíram da conferência de Bolonha (1988, precedida pela declaração da Sorbonne) e de uma forma muito mais vincada Bergen (2005) e Lisboa (2007).

Quem esteve envolvida em toda a discussão que rodeou este processo, não pode deixar de estranhar que a principal discussão, no caso português, se prendesse com o que chamar aos 1º e 2º ciclos de estudos. Vendo a que correspondem as competências específicas para cada um dos ciclos, chega-se à conclusão que ter chamado bacharelato ao 1º e licenciatura ao 2º teria sido uma opção muito mais de acordo com o que havia em Portugal e com o que se pretendia, forçando a maior parte dos cursos a mudanças circunstanciais. De notar que, pela sua especificidade, Medicina não se encontrava abrangida por estes documentos. Aliás, numa pura observação dos detalhes, todo o processo visava muito mais tornar os cursos semelhantes a medicina (a formação de um médico é coisa para levar perto de 10 anos, por entre especialização e internatos).

No entanto seguiu-se a adopção da licenciatura e do mestrado. Logo de início se especulou se estariam algumas invejas por trás desta adopção. Para mim, desde que me vi dentro da discussão, sempre preferi por dizer, como um grande amigo meu diz, "chame-se-lhe um apito", como forma de chamar à atenção para o facto de o que importava nesse livro ser o conteúdo e não a capa. Como eu, muitas vozes de alunos sempre frisaram esse ponto. A reacção que, invariavelmente, se obtinha por parte do corpo docente/regente era a de um paternal "vocês não sabem do que falam".

Na realidade sabíamos! Sabíamos que as propinas de mestrados, por lei, são diferentes das de licenciatura e percebíamos (2004) porque é que se chamava licenciatura a um ciclo de estudos que mais atribuía competências de bacharelato e mestrado a um que nos deixava ali no meio entre a licenciatura e mestrado antigos.

A notícia do público vem mostrar que não era preciso, na altura, ser um tremendo visionário! Quando uma instituição tem três cursos concorrentes, mesmo no arranjo bolonhês da coisa, quando um reputado dirigente da mesma afirma que o regime de prescrições não entra em vigor devido à perda de verbas inerentes às matrículas de alunos, por aí se vê o que foi a Bolonhesa à Portuguesa: um prato que do original tem os ingredientes, o nome e que se cozinha (e sabe) de uma forma totalmente distinta!

Wednesday, November 17, 2010

E o povo pá?

Portugal e Irlanda lideram vendas automóveis na UE

Para quem acredita que as coincidências não existem esta notícia vem desmenti-los. Ou será que não? Cada um acredite no que quiser mas para mim, quem a sabe toda são os senhores aí em baixo.