Wednesday, November 23, 2011

Animal Farm - O Triunfo dos Porcos

Hoje faz-se uma caminhada cultural pelo curto romance de George Orwell. A fábula devia ser ensinada na escola, nas escolas do mundo. Claro que a leitura do texto nos mostra porque nunca ninguém ousará incluir algo deste calibre num currículo escolar.


"No one believes more firmly than Comrade Napoleon that all animals are equal. He would be only too happy to let you make your decisions for yourselves. But sometimes you might make the wrong decisions, comrades, and then where should we be?"
Ninguém acredita mais firmemente que todos os animais são iguais do que o Camarada Napoleão. Ele ficaria satisfeitíssimo se vocês decidissem por vocês, mas por vezes podem tomar as decisões erradas e então, como ficaremos?

Ou na Madeira: "votos de cada partido presente são contados como representando o universo de votos do respectivo partido ou grupo parlamentar”.


Ao longo de todo aquele ano os animais trabalharam como escravos, mas felizes no seu trabalho. Suportavam todos os esforços e sacrifícios conscientes que tudo o que faziam era para benefício próprio e dos seus descendentes, e não para um bando de humanos usurpadores.

Ou a versão de Pedro Passos Coelho: "As dificuldades existem e têm de ser enfrentadas. Mas vale a pena enfrentá-las e ganhar força para as ultrapassar. Trata-se também de uma oportunidade para fazermos as coisas de modo diferente para futuro." (Publicada no facebook do referido, segundo o Diário Económico online de 22 de Novembro de 2011)


Tuesday, November 22, 2011

A Ilegalidade da Desumanidade

 Anda por aí muita gente indignada com os imigrantes ilegais. Corre-se os cafés e muitos refilam contra essa gente que vem para aí tirar empregos. Refilam sem que concorram a esses empregos que os ilegais lhes tiram. Abstêm-se de concorrer por acharem que merecem mais que isso. Merecem melhores salários, cargos mais dignos, um sem número de regalias que merecem e que os imigrantes quase que lhes tiram da boca.

 O imigrante ilegal, que assume esses empregos, é um crápula, um vampiro, que aceita trabalhar sob cirscunstâncias que colidem com o que (ainda) é lei do trabalho. Esperem, o imigrante afinal é duplamente criminoso. O mal dele é que aceita trabalhar em vez de reclamar. Pois... Poder reclamar pode, mas como ilegal que é seria tratado abaixo de animal e retornado sem apelo nem agravo para o ponto de origem.

 Para um país que abraçou desde eterna memória o estatuto de remediado e acobardado é estranho haver quem procure melhorar a sua vida. Que esteja disposto a arriscar essa mesma vida ainda é mais estranho. Eu, sentado no meu cafézinho, é que jamais o faria. Nem aceito que alguém o possa fazer!

 Torna-se complicado perceber que se olhe para um imigrante ilegal como se fosse um cachorro que rói os sapatos preferidos do dono. Trata-se de um ser humano. Custa-me compreender que alguém tenha mais direitos ao que quer que seja com base no sítio onde nasceu do que alguém que arrisca a vida e a saúde para estar nesse lugar. E desculpem o desabafo...

Friday, November 18, 2011

Pintelhices

 Eduardo Catroga recebeu alguma visibilidade recente por ser um proto-ministro das Finanças e por ter usado um sinónimo de pêlos púbicos num espaço noticioso.

 Na onda dessas capilaridades parece estar que um "trabalhador por conta de outrem" é o mesmo que "um empregado à custa de outros". De outra forma a frase que pronunciou de acordo com notícia do SAPO não faz sentido.
“um ambiente em que os pais e os próprios desejavam um tacho, isto é, trabalhar por conta de outros. Agora, felizmente, existe número crescente de jovens que querem trabalhar por conta própria”
Quando se diz que havia no país “um ambiente em que os pais e os próprios desejavam um tacho, isto é, trabalhar por conta de outros. Agora, felizmente, existe número crescente de jovens que querem trabalhar por conta própria” está-se a confundir o sinónimo de conezia, ou de mama com o sinónimo de diligenciar, empenhar-se ou lidar

 É fácil de perceber que, para quem pertenceu a um governo do Sr. Silva, seja difícil de ver a diferença (considerando o desfilar de nomes associados a favores no caso BPN), mas para quem não teve de passar por essa "dificuldade" fica difícil de perceber a associação.

União Europeia por esse rio abaixo...

Tuesday, November 15, 2011

(d')As antigas e viciadas práticas

 Hoje no editorial do DN temos um apanhado do que melhor se tem feito em futurologia em Portugal. Como diz o editor:
Em 2006, a 13 de Outubro, Manuel Pinho anunciava a boa-nova ao País: "A crise acabou!", garantia o então ministro da Economia, sublinhando que, à época, se vivia um ponto de viragem, e a questão era a de saber quanto é que a economia portuguesa iria crescer.
Dois anos mais tarde, em 2008, Teixeira dos Santos, então titular das Finanças, animado pela subida de alguns indicadores económicos, também não tinha dúvidas: "Estamos mais próximos do fim da crise do que do seu início e creio que estaremos, porventura, a passar o pior momento da crise nos últimos meses." Meses depois, em Agosto de 2009, José Sócrates era peremptório (usando aliás as mesmas palavras que hoje saem da boca de Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira), anunciando um novo futuro: "É o princípio do fim da crise."
 Um parágrafo mais à frente, o editor refere o mais recente episódio de futurologia:
E ontem, foi a vez de Álvaro Santos Pereira cair em tentação: "2012 será um ano determinante para Portugal e para a economia portuguesa", pois "certamente irá marcar o fim da crise e será o ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014". E caso alguém estranhasse, o ministro vincou: "Que não exista qualquer dúvida!"
 Como dizia a outra: se não fosse verdade, até tinha piada.

  Na segunda parte o editorial debruça-se sobre os novos governantes europeus. Na sua curta intervenção menciona que
A sua escolha foi, por outro lado, também um "sinal" para o exterior de que as antigas e viciadas práticas serão deixadas para trás.
 Desconheço quais as antigas e viciadas práticas que ficaram pelo caminho. Desconheço-as porque ainda não vi quais as novas e virtuosas práticas que os respectivos governantes irão impor nos seus países. A antiga e viciada prática que entretanto já ficou pelo caminho, foi aquela em que os povos escolhem os seus governantes. Eu compreendo que isso da democracia é uma antiga e viciada prática grega e que não é a primeira vez na história que a humanidade a deixa de lado, mas será esse o caminho que queremos elogiar?

Thursday, November 10, 2011

After being bombarded endlessly by road safety propaganda, it's almost a relief to have found myself in an actual accident.

 A frase do título é retirada do estranho filme Crash (1996, David Cronenberg) e talvez esteja para o breve o tempo em que todos a diremos. Poderá estar relacionada com acidentes económicos, sociais ou outros. Para alguns infortunados, estará também associada a acidentes viários.

 Este comentário, apesar de já ser o segundo, marca oficialmente o início de um novo marcador de comentários aqui no blog: Gathering Storm. A tempestade que se aproxima era, em Churchill a segunda guerra mundial. No nosso caso será algo anterior a esse marco.

 Quando se lê hoje em dia qualquer comentário onde se diz que "a Bolsa de X perdeu", ou se fala que empresas perderam será que perderam mesmo ou, como em 1929, esse valor nunca existiu exepto (actualmente) num écran de computador?

 Quando todos os países devem a alguém e esse alguém deve a terceiros que devem a quartos que devem... No extremo concluiremos que o saldo do planeta, no que a dinheiro diz respeito, será negativo. Como em 1929, andámos a comprar sonhos e nuvens. Olho para as notícias e vejo que Portugal pretende vender mais uns quantos títulos de dívida. De dívida! Andamos a vender falta de dinheiro. Andamos a dizer que nos falta dinheiro, que somos incapazes de produzir riqueza e no final vendemos essa incapacidade e prometemos somar-lhe mais uma fatia.

 Estamos acompanhados de todos neste procedimento, mas nunca a imagem do "se todos se atirarem para um poço tu vais atrás?" fez tanto sentido como agora. Ao olhar as notícias lembro-me do título. Quanto tempo andaremos aqui a ouvir falar de acidentes e com nuvens a pairar no horizonte até que finalmente sejamos atingidos por um raio?

What Time Should We Meet?

A importância da Europa no Mundo actual pode ser vista pelo horário a que as coisas acontecem.

O Real Madrid mudou o seu horário (no que secunda a Premiership) para agradar aos mercados asiáticos. Politicamente as notícias sobre Papademos e Monti calham mesmo a tempo de animar os mercados americanos.

E pronto.

(Imagem retirada do sítio do The Guardian)

Friday, October 7, 2011

Proletarier aller Länder vereinigt Euch!

Alguém experimente traduzir e dizer em voz alta a frase do título, tirada do manifesto de um tal de Marx, e certamente haverá quem para ele como se ele tivesse uma doença altamente contagiosa. Que esta atitude encontre ecos em franjas de desempregados e vítimas daquilo a que o referido autor se opõe na sua obra, não deixa de ser curioso.

Curioso também é como as mesmas figuras vitimadas defenderão com unhas e dentes um sistema que fomenta a livre circulação de capitais e mercadorias e a barra a pessoas. É mais fácil um pacote ser enviado de Bruxelas para a China, com paragem em todas as capitais pelo meio, do que uma pessoa fazer a referida viagem.

Pior, se a pessoa quiser trabalhar para subsidiar a viagem, as dificuldades ainda serão mais acrescidas.

No entanto os pacotes vão e vêm com impressionante e relativa facilidade e nem só para a China. Na questão Líbia, nenhum país do Mediterrâneo queria os líbios que fugiam, mas todos queriam (querem?) o petróleo e o gás.

Por uma questão de coerência, ninguém que esteja contra a livre circulação de pessoas poderá comprar um artigo importado. Dir-me-ão que os artigos cumprem regras e pagam impostos. E as pessoas não? Ou reformulando, estando em igualdade de condições, não pagarão as pessoas os mesmos impostos? Será uma pessoa que procura ter acesso a melhores cuidados de saúde, a melhor educação a um emprego melhor, menos valiosa que um par de calças?

Talvez o que o Mundo precisa é de ajustar o seu sistema fiscal aos tempos que correm. Não se pode continuar a ter uma arquitectura fiscal de finais do século XIX, onde a sociedade dos serviços era reduzidíssima, quando se tem uma economia de séc. XXI. Não se pode inundar o mercado com produtos produzidos com quem recebe pouco mais de 300 euros por mês, em turnos de 12 horas, sem direito a educação, a assistência na saúde, que vivem literalmente em jaulas (ver reportagem Living in a cage in Hong Kong) e depois dizer a quem usufrui dos direitos da Convenção dos Direitos Humanos é que está errado, que não é competitivo.

Tem de haver uma pressão para que ocorra igualdade de circunstâncias no tratamento de diferentes trabalhadores. Isso não quer dizer trabalhar até morrer, não quer dizer turnos de 12 horas, não quer dizer semanas de 6 dias. Isso quer dizer direitos humanos para todos. Direito ao trabalho e não à exploração. Direito ao descanso. Direito a ter uma família e poder estar com ela. Direito a poder tratar os filhos como algo mais do que fontes de rendimento. Direito a poder procurar uma vida melhor. Porque ser rico não é crime, quando não se consegue a riqueza à custa da miséria dos outros.

Num próximo comentário abordarei duas medidas que penso poderem fazer a diferença, haja coragem e determinação para as por em prática.

Tuesday, September 20, 2011

Sic Transita Gloria Mundi

 Enquanto o normal dos portugueses se prepara para balir de dor, ao largo das Canárias no pasa nada. De acordo com o Prof. Marcelo é difícil arranjar provas, apesar de quase todos os dias, durante as duas últimas semanas, o visado ter declarado em público que sim, que aldrabou contas, que escondeu informação, que violou a lei.

 Claro que não esteve sozinho e isso mesmo nos lembra Pedro Lomba neste artigo de opinião do DN de hoje, e que transcrevo abaixo.

 Não me apetece comentar nada. É tudo demasiado triste e assim não limite aos sacrifícios. Com uma Europa desnorteada e os vampiros no poder, porque nos sacrificamos? 

Prender Alberto João? E os outros todos? Não?

por PEDRO TADEUHoje96 comentários
Já vi uma capa de jornal com a fotografia de Alberto João num cartaz, ao estilo faroeste, sob o título "wanted". Já li dezenas de crónicas a acusar do pior o homem que impede a imprensa madeirense de ser livre. Já ouvi inúmeras frases de políticos e, até, de um primeiro-ministro, a classificar de "muito grave" o resultado do comportamento do líder regional que é capaz de alegar "estado de necessidade" para enganar as contas do Estado em mil milhões.
Quero alinhar com os puritanos justiceiros mas, perante tanta unanimidade, ainda por cima acompanhada pela garantia de um inquérito da Procuradoria-Geral da República - o que, diz a História, é prometer a ineficácia e a confusão total da justiça -, hesito...
Onde estão os presidentes de Tribunal de Contas que, ao longo de décadas, se limitaram a remeter para inócuos relatórios e pálidas recomendações o crónico incumprimento de regras para um registo fiável das contas do Governo Regional da Madeira? Onde estão os ministros das Finanças e os secretários de Estado do Orçamento que ignoraram todos os sinais e alertas? Onde estão os presidentes do Instituto Nacional de Estatística e os governadores do Banco de Portugal que precisaram de uma troika estrangeira para aprender a somar e a diminuir as parcelas enviadas do Funchal? Onde estão os magistrados que nunca acharam ali matéria de inquérito?
Não deviam ser investigados os primeiros-ministros que aceitaram sempre pagar mais a Jardim? Não deviam ser investigados os deputados que redigiram uma lei que penaliza com um máximo de 25 mil euros quem faz trafulhices contabilísticas no Estado? E os governos que negociaram votos de deputados do PSD/Madeira para aprovar diplomas na AR? E os que perdoaram as dívidas do Governo Regional? E os que sexta-feira votaram contra ou se abstiveram (CDS, PSD e PS) num projecto para auditar as contas do Governo da Madeira? Não são todos culpados de alimentar o vício?
Estamos assim tão seguros de que as contas do Governo central, dos Açores ou das câmaras de Lisboa e Porto estão certinhas? Não vamos ter mais surpresas de milhares de milhão? Juram? Ou é melhor não mexer mais na lama, para não acabarmos todos enterrados?
Já nem exijo que se vá ver onde foi parar tanto dinheiro, nem quantas fortunas foram feitas à conta desta loucura financeira. Parece que sobre isso, pelos vistos, não há suspeitas. Peço, apenas, que não transformemos o horrível Jardim num bode expiatório.
O Continente tem tanta culpa neste cartório como a Madeira, seja pela omissão, seja, pressente-se, pela vergonhosa cumplicidade.

Thursday, September 1, 2011

Diz que é uma espécie de político.

Para haver confiança nos políticos necessitamos de políticos merecedores dessa confiança. Sem dizer muito, Fernanda Câncio diz imenso hoje no DN. Segue abaixo cópia integral da mesma, destacados meus.

Aqui fica o link para o twitter de Passos Coelho, caso alguém queira confirmar datas e horas destas verdadeiras pérolas.


"Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução."

"Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa."

"Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias."

"Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou."

"Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas."

"O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa."

"Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos."

"Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos."

"Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos."

"Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado."

"Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal."

"O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando."

"Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa."

"Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas."

"Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português."

"A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento."

"A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos."

"Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota"

"O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."

"Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate."

"Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?"

Conta de Twitter de Passos Coelho (@pedropassoscoelho), iniciada a 6 de Março de 2010. O último tuite transcrito é de 5 de Junho de 2011

Monday, August 1, 2011

As Armas Assinaladas

 Há uma lista de coisas para privatizar em Portugal. Apesar de achar que o próprio privatizar em Portugal padece de uma lógica muito pouco mercantilista, isso será abordado noutro tópico. Neste vou abordar apenas a  imagem que tenho da TAP neste momento, por haver pontos que considero importantes.

 Tenho nos últimos cinco anos, como se sabe, recorrido regularmente aos serviços de várias companhias aéreas e a TAP ocupa neste momento o topo das minhas preferências. Tive ainda o privilégio de conhecer e voar na TAP antes de Fernando Pinto e de conhecer a nova companhia, dirigida por este brasileiro que as mentes mais salazaristas desta terra insistem em dizer que vá para a terra dele. Eu acho que o que nos faltam é mais portugueses como ele.

 Nunca percebi muito bem o que é isso de companhias bandeira, mas a TAP de Fernando Pinto mostrou-me: uma pessoa ainda antes de chegar a um país, já está a ser embrenhada nele, a ser conduzida pelos seus recantos. por exemplo os produtos alimentares que poderiam ser uma qualquer marca branca, mas a companhia teimosamente insiste em que sejam marcas portuguesas (exeptuando a cola). A revista é um brilhante passeio por Portugal, apesar de ter sempre um destino da companhia. Aliás, a revista da TAP é um monumento à divulgação do país, num país que parece contar no boca-a-boca para se promover. Nesse aspecto a revista da TAP leva o passageiro a cantos inexplorados, com entrevistas que servem simultaneamente de roteiros culturais e gastronómicos e um espaço de excelência para a divulgação das nossas gentes no Mundo.

 Por outro lado, parece haver quem se esqueça que Fernando Pinto, veio para a TAP com o objectivo de lhe dar a volta que faria dela algo atractivo para se privatizar e quando se diz privatizar não se diz vender ao desbarato sem qualquer salvaguarda do que a companhia representa para o país como muitas mentes iluminadas parecem querer (eles lá saberão quem lhes paga a iluminação).

 Porquê este comentário hoje?  Bom, por dois motivos, primeiro porque a aposta de Fernando Pinto no mercado brasileiro (e apesar de não o dizerem, o africano também) é aquilo que torna a TAP uma marca incontornável no mercado da aviação mundial. Para esses seres pequeninos, que gostam da sua mente pequenina, e que o único conhecimento que têm da TAP é o que lêem nos jornais ou vêem passar por cima das suas pequenas cabeças recomendo o seguinte parágrafo da notícia abaixo:



Citado pelo The Times, revelou estar "particularmente interessado na TAP porque tem uma rede muito forte para o Brasil".

"Eles são o 'player' número um entre a Europa e o Brasil", vincou Walsh.

Monday, July 18, 2011

Os tansos do costume por José Couto Nogueira (in iOnline)

Na onda divulgadora em que tenho andado (com alguma preguiça à mistura) segue hoje texto publicado ontem no i por José Couto Nogueira. Poucos textos traduzem o meu sentimento (gosto dos actores, abomino as medidas) e poucos textos traduzem a nossa realidade e colocam à vista de todos as falácias com que somos bombardeados.

Os tansos do costume

por José Couto Nogueira, Publicado em 16 de Julho de 2011 


A ventania na esplanada é tal que Trindade se resguarda num casaco branco de gola levantada, enquanto Carmo leva constantemente a mão ao chapéu, prestes a descolar. Parece que o vento irrita os dois, mas não arredam pé.

"Gostei do Vítor Gaspar", diz Carmo en passant, como se estivesse a falar de um filme.

"Mostrou-se pouco habituado aos discursos políticos, parecia um colegial a fazer um exame. Estou farto de tipos que a sabem toda. Chegam ali, dizem duas larachas muito bem estudadas e deixam toda a gente acachapada.""Essa é boa!", retruca Trindade, mais surpreendida que aprovadora. "Gostaste da postura do menino... E também estás satisfeito com as medidas?"

"Ó Trindade, as medidas são cruéis, já toda a gente estava à espera. Mas foram explicadas ao pormenor.""Não ouvi nenhuma explicação plausível para a aflição dos recibos verdes. E ouvi uma explicação ridícula para a isenção dos juros e dividendos."

"Mas tu não podias estar satisfeita, pois claro!", Carmo irrita-se, agarra o chapéu com mais força, como se fosse o subsídio de Natal em fuga. "Nada que venha destes tipos te pode agradar..." Olha para ela, embirrento. "Não precisas de dizer, que eu já sei: os ricos nunca pagam a crise."

"E pagam?"

"Achas que toda a gente que recebe juros e tem activos financeiros é rica? Há muitos investidores que têm um pequeno rendimento das poupanças de uma vida. Reformados, velhos..."

"E esses pequenos investidores retirariam os seus investimentos se fossem penalizados com impostos, dizes tu? Faziam o quê com o dinheiro? Metiam--no debaixo do colchão?"

"Levavam-no para o estrangeiro. E retiravam-no dos bancos, que precisam dessas poupanças para emprestar às PME. Vê-se logo que não percebes nada de economia e finanças."Não se percebe se Trindade está a rir se a ranger os dentes:

"Não é preciso perceber de economia e finanças para... aliás, digo melhor, só não percebendo de economia e finanças é que se pode dizer um disparate desses."

"Ah, é um disparate? Então porquê?""Primeiro, os pequenos investidores nunca vão para o estrangeiro. Têm receio, não sabem fazê-lo. Segundo, os pequenos investidores não contam para a equação. São os grandes investidores, duas dúzias deles, que têm peso económico. Terceiro, grandes ou pequenos, porque não hão-de pagar também o pato? Têm de ser sempre os tansos do costume? Os assalariados que recebem do empregador e não podem levar a família para o estrangeiro?"

"Tansos?" Por uma vez, Carmo sorri. "Bela palavra!"

"Foi usada pelo falecido Leonardo Ferraz de Carvalho, no ''Independente''. Dizia que era um tanso fiscal porque pagava todos os impostos, sem fugir com um centavo. São aquelas pessoas que recebem das empresas contra recibo, descontam à cabeça e não têm maneira de fugir. Não fazem negociatas nem trabalhos por fora."

"Mas, ó Trindade, tem de haver medidas gravosas. Achas que não?"

"Acho que sim e estou disposta a pagar. Mas têm de pagar os que podem." Trindade suspira profundamente, como se estivesse a antever o destino cruel. "Os tipos dos recibos verdes, como eu, vão pagar imposto sobre um subsídio que não recebem. Não recebem, mas vão pagar! Ora toma lá que já almoçaste!"

"Mas Trindade, não vão pagar nada no Natal. Pagam depois, com a declaração de IRS em 2012."

"Se pagassem não comiam, não é? Ora faz lá as contas: um tipo que receba mil euros a recibos verdes desconta todos os meses 21,5 mais 26,5 por cento, ou seja, 48 por cento. Estás a acompanhar?"

Carmo encolhe os ombros, enfadado: "Estou, estou. Já me disseste isso mil vezes. E eu, quanto achas que pago?"

Agora é Trindade que encolhe os ombros: "Adelante. Em Dezembro vai pagar, segundo as minhas contas, mais 25,75 por cento. É os tais mil euros hipotéticos de subsídio, menos os 485 de salário mínimo, o que dá 515 euros, a dividir por dois... Continuas a acompanhar?"

"Sim, sim, estou a seguir."

"Então uma pessoa que ganhe mil euros a recibos verdes vai receber em Dezembro 263 euros. Não me interessa se paga antes ou depois, o seu rendimento líquido em Dezembro é de 263 euros. O que me dizes a isto?"

Carmo olha para ela a medo e tenta esboçar um sorriso: "Está bem, já percebi que este ano não me vais dar presente nenhum... Mas deixa lá que eu ofereço-te 250 gramas de fiambre magro, para comeres alguma coisinha na consoada."

Wednesday, July 13, 2011

Sobre imigrantes ilegais e a demagogia que os rodeia


 Sempre que oiço falar de como a Europa carece de oferta de emprego para todos os que lhe batem à porta, ou sempre que vejo a bonita tropa nacional-parvoísta a debitar como a malta imigrante nos anda a roubar empregos, o que me apetece dizer é algo semelhante ao que está acima.

Wednesday, July 6, 2011

Um pouco de Sá Carneiro

Palavrinhas interessantes nos dias que correm. Destacados meus.


 «Numa época em que, em certas sociedades, o poder é pertença de minorias compostas pelos detentores do grande capital e por membros da tecno-estrutura; em que, noutras sociedades, dele se apropriou uma classe burocrática que domina não só todo o aparelho de Estado como todas as estruturas económicas e sociais – ou se quer apropriar uma elite de intelectuais auto-iluminados que pretendem pôr em prática os seus dogmas e as soluções mais ou menos originais que conceberam – pergunto-me: poderão as sociais-democracias retirar o exclusivo do poder às minorias oligárquicas, promovendo a sua efectiva transferência a nível político, económico ou social, para toda a população, desde os órgãos do Estado às unidades de produção ?(...)O Programa que aprovámos mostra bem que o nosso caminho tem de consistir na construção de uma democracia real. Não basta apenas rejeitar, ainda que claramente, as via oferecidas pelo neocapitalismo e pelo neoliberalismo, por incapazes de resolverem as contradições da sociedade portuguesa e de evitarem a inflação, o desemprego, a insegurança e a alienação na sociedades que constroem. Não bastam reformas de repartição ou redistribuição de riqueza, sobretudo pela utilização da carga fiscal. Há que introduzir profundas reformas estruturais, que alterem mecanismos do poder e substituam à procura do lucro outras motivações que dinamizem a actividade económica e social. Propomo-nos, assim, construir não apenas uma simples democracia formal, burguesa, mas sim, uma autêntica democracia política, económica, social e cultural.A democracia política implica o reconhecimento da soberania popular na definição dos órgãos do poder político, na escolha dos seus titulares e na sua fiscalização e responsabilização; exige a garantia intransigente das liberdades individuais, o pluralismo efectivo a todos os níveis e o respeito das minorias; não existe se não houver alternância democrática dos partidos no poder, mediante eleições livres, com sufrágio universal, directo e secreto. A democracia económica postula a intervenção de todos na determinação dos modos e dos objectivos de produção, o predomínio do interesse público sobre os interesses privados, a intervenção do Estado na vida económica e a propriedade colectiva de determinados sectores produtivos; pressupõe ainda a intervenção dos trabalhadores na gestão das unidades de produção. A democracia social impõe que sejam assegurados efectivamente os direitos fundamentais de todos à saúde, à habitação, ao bem-estar e à segurança social; exige a abolição das distinções entre classes sociais diversas e a redistribuição dos rendimentos, pela utilização de uma fiscalidade justa e progressiva. Finalmente a democracia cultural consiste em garantir a todos a igualdade de oportunidades no acesso à educação e à cultura e no favorecimento da expressividade cultural de cada um


(in CARNEIRO, Francisco Sá, Por uma Social-Democracia Portuguesa, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1975)


(Francisco Sá Carneiro representado por Bottelho)

Tuesday, June 28, 2011

Vanitis vanitatum et omnia vanitas

 Poucas pessoas terão contribuído para o conhecimento de latim como Albert Uderzo. O génio deste autor vê-se em muito do que nos deixou, mas em particular nos textos e personagens que produziu para toda a série Astérix. Para os conhecedores de BD há um claro com e sem Uderzo.

 Até ver, Portugal poderá ter também um com e um sem Passos Coelho. Não sou particularmente adepto das políticas que ele defende, mas tenho de confessar que os primeiros dias de governação têm contribuído para uma certa apreciação das qualidades da pessoa. Em causa pequenos sinais que têm sido enviados.

 Em primeiro lugar a constituição da equipa ministerial. Posso-me enganar redondamente, mas parece-me ser a equipa ministerial mais jovem de que há memória. Logo houve quem se viesse queixar que falta experiência, mas convenhamos, os experientes mostraram a seu tempo alguma incapacidade de levar o país para a frente. Outra preocupação foi a de chamar independentes com fartura. Sim, independentes coloridos, mas mesmo assim gente que vem de fora das máquinas partidárias. Mais que não seja, merecem o Estado-de-Graça que muitos vaticinaram não lhes ser devido.

 Entretanto, Passos Coelho foi ao seu primeiro Conselho Europeu. Não partilho do seu entusiasmo sobre os resultados, mas a verdade é que a forma como foi abafou toda a discussão sobre o que foi lá fazer. E como foi? Na TAP e apregoando que voava em turística. Logo houve quem viesse bater palmas e não faltou quem lembrasse que os membros do Governo em representação oficial não pagam bilhete na TAP. Houve ainda quem lembrasse que, por uma questão de cortesia, aquando destas viagens, os governantes são usualmente convidados a deslocarem-se para a classe executiva. E ainda houve quem perguntasse onde anda o Falcon da Força Aérea.

 No fundo o que se fazia ao questionar a medida era escamotear a mensagem que ela envia. A todos os governantes, secretários, assessores e admnistradores. Ou então ninguém quis chamar ao caso os (rebuscados) factores económicos. Ao abdicar da sua reserva em executiva, Passos Coelho permitiu à TAP vender mais cinco bilhetes numa das rotas com maior ocupação da referida classe ou que o Falcon da FAP ainda não anda sem combustível, sendo que o da TAP é comparticipado também pelos utentes.

 Já que falei de Economia,  vai para aí um burburinho por o super-ministro da Economia (e suas sub-áreas) ter pedido numa feira para que o tratassem pelo primeiro nome, ao invés do tratamento deferencial que remete para o seu cargo. O burburinho, que teve direito a ironia fatela, só se percebe num país de títulos. Face à carreira internacional do visado, compreende-se o "deslize".

  Por outro lado, o ironizador aproveitou para levantar o véu sobre a composição do elenco dos Secretários de Estado. Por algum motivo o que ele disse no Domingo não se verificou na Terça.

 Tudo isto são apenas sinais. Pessoalmente sei que vou dizer muito mal das políticas e das medidas, mas até agora a equipa e o seu líder prometem mudar as mentalidades. Não sei se vão conseguir, mas de repente sinto-me mais esperançado no Governo do que em Portugal...

Wednesday, June 15, 2011

Veni, Vidi, Vici ou porque em política há mais que um vencedor

 Sendo certo que há vários derrotados, nem todas as forças políticas se podem queixar de lhes ter corrido mal a noite.

 A primeira força política que pode reclamar uma vitória é o PCP. Não é uma grande vitória, mas a verdade é que foi a única força das que se dizem à esquerda a crescer. Um deputado, é certo, mas para um partido em morte anunciada há vários anos, conseguir nesta altura capitalizar algum descontentamento, é uma vitória. O que acaba por ser um prémio pela coerência que enquanto força política o PCP demonstra. Poucos partidos... Ou melhor dizendo, apenas outro partido com assento parlamentar se pode gabar de ser tão coerente em termos de discurso, mas a esse já lá vamos.

 Em segundo lugar no pódio dos vitoriosos encontra-se o PPD. Para quem acha que o PPD de Pedro Passos Coelho é o grande vencedor da noite, basta recuar até à maioria absoluta de Sócrates. Num momento de desgaste como aquele a que o Governo estava sujeito, não conseguir uma maioria de partido único tem de ser encarado como uma vitória insonsa. A menos que o único objectivo do PPD fosse mesmo o de tirar Sócrates a qualquer custo... No fundo, no fundo, o que este resultado nos diz é que para Portugal, Sócrates ainda foi um bocadinho menos mau que Santana Lopes!

 No topo do pódio está a força que falta. A persistência de Paulo Portas já merecia que CDS-PP significasse Centro Democrático Social - Paulo Portas. Não é um novato nestas andanças, partilhando com Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã o facto de ter uma carreira profissional antes de se lançar na política. Pela segunda vez consegue forçar o PPD a ter de olhar para ele para poder formar uma maioria parlamentar. Na primeira vez a coisa até correu bem, tendo saído ileso dos desastres Barroso e Santana. Nesta fase, em que está tudo tratado, convém relembrar as afirmações de Santana sobre a dureza negocial de Portas. Se alguém houve que a sentiu na pele foi ele. Se alguém sentiu as consequências fomos todos: convém relembrar que a ministros do CDS podem ser imputados retrocessos na Justiça e o sistema de Segurança Social em vigor.

 A distribuir as medalhas ao pódio está o vencedor do prémio Platina: Cavaco Silva. Aquele discurso de propaganda no dia de reflexão, encapotado de discurso presidencial, só revela a interpretação muito lassa que Cavaco tem do sentido democrático. Tanto como os esclarecimentos que prestou sobre umas permutas no Algarve. Para quem não era vivo, ou se esqueceu, da liberdade nos tempos do Sr. Silva primeiro-ministro, basta ver como na generalidade da imprensa a crise acabou e Portugal quase parece a Noruega do Mediterrâneo. Tal como na generalidade da imprensa em 1994...

Friday, June 10, 2011

Vae Victis, que no fundo somos todos nós.

 Esta semana foi feita de digestão. Essencialmente de digestão dos resultados eleitorais. Essa digestão foi lenta, árdua e ainda provoca alguma azia. Ou será melhor dizer, algumas azias, não provocadas no entanto pelos resultados, esperados, do escrutínio de dia 5.

 O momento é de acção e tem sido acção aquilo que temos visto. Simplesmente, como nos tem mostrado a Bélgica, por vezes não inventar é melhor do que estar sempre a estrebuchar. Dos derrotados não reza a história, mas ou muito me engano ou ainda vamos andar uns meses a ouvir dizer que "Sócrates deixou isto muito pior do que pensávamos" e outras desculpas parecidas, onde só muda o nome do culpado, que servem fundamentalmente para explicar porque, depois de enfiados os dedos, se começa a escarafunchar.

 Sócrates sai evidentemente derrotado e, contrariamente ao que se costuma fazer em política, nem sequer fez por o disfarçar. Claro que a derrota era por demais evidente para se tentar tapar com uma peneira. Não só não conseguiu o impossível (se o partido mais representado na Assembleia da República), como não conseguiu o único objectivo real que restava ao PS, impedir que PPD e CDS tivessem a maioria de deputados. No entanto o PS não é o maior derrotado da noite. De certa forma, o que aconteceu ao PS era esperado: o atrito da governação nos últimos anos era de tal forma grande que só depois da certidão de óbito ser assinada é que os abutres se aproximaram. Ou para quem não percebe bem, só depois de consumada a derrota é que apareceram os candidatos à substituição.

 Ora se o PS não foi o grande derrotado, só resta, em abono da verdade, uma força política para carregar essa medalha. Qualquer força política que se veja reduzida a metade, tem de ser uma força política derrotada. Quando essa força está no lado do espectro sem influência nas leis que vão sair nos próximos anos, então a derrota é ainda maior. Costumo dizer no meu círculo mais intímo que, politicamente, o Bloco apenas existe enquanto foco de direitos para os homossexuais e "drogas para todos", tudo o resto é fogo de vista. Com as vitórias acumuladas ao longo dos anos (despenalização do consumo de drogas e mais recentemente o alargamento do casamento a casais homossexuais) genuinamente ao Bloco apenas lhe restava a luta pela adopção, algo que dificilmente entrará num top 6 (porque seis são os partidos com assento parlamentar) das preocupações do eleitorado. Seguidamente, há uma sucessão de erros de pontaria e colagens ao PS, que não devem ficar muito longe de hara-kiri político. Quando até na semana anterior ao sufrágio, uma das principais apoiantes do BE vem a público dizer que Passos Coelho é melhor líder que Louçã, tudo o resto será apenas barulho de fundo...

 Os mais pessimistas podem no entanto incorporar ainda os cidadãos portugueses como os realmente derrotados no Domingo dia 5 de Junho. A nossa tendência para o masoquismo vem de longe e esta votação não traduz nada de novo nesse campo. No período mais escuro da nossa história recente, 45% (quase metade) dos eleitores não exerceram o seu direito. O facto de eu encarar o voto como um dever e portanto algo mais que um direito, por vezes tolda-me o espírito na avaliação deste aspecto. É o meu dever para quem ao longo da história lutou, sofreu e, em alguns casos, pagou com a vida o direito ao voto para todos. Não é um dever de esquerda, meio, direita, cima, baixo... É um dever de quem vive numa sociedade livre. Se alguém procura um bom motivo para sair de casa e fazer 1 de 16 escolhas (um de 14 partidos, voto branco ou voto nulo), olhe para quem enfrenta tanques e armas no Bahrein, para os que saíram à rua na Tunísia ou no Egipto, para os chineses presos em casa ou desaparecidos. Sim, liberdade também é poder não votar, mas tem de haver um sentido maior de viver em sociedade. Falta de escolha não seria certamente: 14 movimentos foram a votos, desses 5 têm assento no parlamento. 

 A grande crise em Portugal não será tanto económica como de valores ou mesmo de confiança, mas se a económica se resolve com dinheiro, as outras só podem mudar com os portugueses. Quando estes perceberem que a primeira se torna menos dolorosa, quando resolverem as segundas, então podemos começar a falar como país desenvolvido. Até lá, alguns oásis no Sahara são capazes de ter camelos mais civilizados...

Friday, June 3, 2011

Vote, pela sua saúde!

 O título de hoje pode soar um pouco dramático, mas como o momento está revestido de dramatismo adequa-se.

 Para os desiludidos com quem nos governa, não há só cinco opções de voto. Aliás, até se poderia dizer que uma das fontes de desilusão vem precisamente de se encarar a política como os partidos com representação parlamentar. Esses são parte importante, porque são a face mais visível do processo legislativo, mas não são a única. Os chamados pequenos partidos têm de ser considerados.

 Primeiro debrucemo-nos na designação de "pequenos" partidos. Quem a colou aos partidos sem representação parlamentar fez um péssimo serviço à democracia. Porque a democracia é a expressão, ao mesmo nível, das vontades e desejos de uma população. A menos que se estabeleçam cidadãos de primeira e de segunda, não pode haver partidos de primeira nem de segunda, por muito que isso nos desagrade. Ironicamente, até tem de haver espaço para quem acha que efectivamente deve haver cidadãos de primeira e de segunda! Portanto a designação que doravante vou assumir é a de partidos sem assento parlamentar (PSP).

 Desiludidos com a política: sendo certo que para vocês quem nos tem governado não serve, porque não lerem bem estes programas e escolherem o que mais vos agrada/menos vos desgosta? O ficarem de fora no Domingo não vos vai devolver o interesse, só vos vai acentuar o desinteresse. Saiam de casa, votem. Se não se decidem, votem branco, que nestas eleições são votos válidos, mas votem. Porque o que aí vem é demasiado importante para ficar entregue às ditaduras camufladas do costume.

 Ditaduras camufladas? Sim leram bem. Quem quiser recuar até à primeira eleição de Sócrates, a primeira maioria absoluta do PS, verá que ela só foi possível porque o estado do país depois da coligação PSD/CDS era de tal forma nefasto, que houve uma corrida a castigar esses partidos nas urnas, com o castigo a ser proporcionalmente maior, quantos mais votos cada um tinha. Como resultado, tivemos um partido a ditar as regras, a fechar-se em copas e a não negociar medidas, para que fossem o mais abrangentes possíveis, tal e qual a situação de que havíamos saído. Isto deve dar que pensar na hora de votar. Quero castigar um partido, porque me trataram mal e vou a correr votar no principal rival, ou quero votar em quem tem ideias semelhantes às minhas? Porque o risco sério que se corre é de trocarmos um ditadorzinho de algibeira por outro.

 Por mim, gosto de um parlamento onde as decisões se tomam com bases alargadas, não marginalmente maioritárias. Gostava que cada um dos 14 partidos concorrentes tivesse pelo menos um deputado. Gostava de eleições à Parlamento Europeu (maioria de votos e de partidos por paralelismo com maioria de cidadãos e países). Gostava de não ter de ouvir de estrangeiros comentários como: "mas isso de ser só um partido não é como uma ditadura?"...

Monday, May 30, 2011

A opinião que remete para outra opinião.

Desde os meus tempos de adolescente, que me interesso particularmente por contos. Não grandes romances, onde muitas vidas se cruzam, antes aquelas histórias complexas na sua simplicidade, de pequena dimensão, passadas em parte incerta e recheadas com as personagens do dia-a-dia. Entre nós gosto particularmente do que Miguel Torga deixou para a posteridade e tenho vindo a apreciar as crónicas que usualmente Hugo Machado faz no i.

Pela participação de longos anos com uma publicação de amigos, comecei a perceber e a sentir a dificuldade de produzir e/ou ler contos grandes e cheguei à conclusão que a internet não é lugar para as grandes (em volume) obras.

Na sexta fiquei a saber que o Bibliotecário de Babel partilha de opinião semelhante, levando mesmo a coisa mais longe, ao ponto de acreditar que a internet contribuirá para a valorização do conto.

Pessoalmente espero que sim! Sinto que poucos como Torga traduziram o ser português sem recurso a longos tratados e de forma tão facilmente acessível. Tal como antes O. Henry havia dado a conhecer a sociedade americana.

Monday, May 23, 2011

Reflexão Eleitoral

Hoje empreendi a grande maratona de ler os programas de todos os partidos com assento parlamentar.

Se ajudou a esclarecer? Claro que não, pelo contrário ainda lançou mais confusão e fiquei com vontade de votar em todos.

Voto no PS que passa o programa a queixar-se dos maus que os outros são. No capítulo de medidas ficamo-nos muito pelo "continuar", "aprofundar" e "estimular" sem nos debruçarmos em coisas concretas.

Voto no PPD pela sua bonita imagem e organização, mas com fraca funcionalidade e um grau de profundidade só comparável ao MoU. Aqui o mal não é tão grave como no PS, mas continuamos a ter exaustivas declarações de princípios ao lado de medidas concretas. Eu diria que sabem bem o que querem, mas esperam que alguém lhes diga outras...

Voto na CDU com as suas 50 medidas em tom de títulos, que levantam questões pertinentes e que revelam esta força como alguém que queremos ter nas mesas de negociações que aí vêm, quanto mais não seja, para transmitir algum contraditório.

Voto no CDS que, não fora achar que tudo devia ser empresa e o Estado um garante que nenhuma vai à falência, bem podia mudar o nome para CSD (Centro Social Democrata), de tal forma Paulo Portas se esforçou por pintar o seu passado carneirista (de Sá Carneiro!) em tons de azul alaranjado (cof!).

Quanto ao BE... Bom, cansei da choraminguice ao fim de 2 capítulos! Os pontos válidos (e os menos válidos) são sufocado por medida/reflexão terem de incluir "porque eles são maus, maus, maus". Enfim... Sintomas!

Claro que me recuso, ideologicamente, a tratar o PPD por PSD, porque por aquelas bandas a "SD" deve estar na mesma gaveta em que o outro enfiou o "S" do PS...

Tuesday, April 12, 2011

Fernando igNobel?

Fernando Nobre aceitou o convite do PSD para liderar a lista de Lisboa às legislativas. Até aqui é um cidadão a aceitar o convite de um partido para exercer um pouco de cidadania activa.

Nas presidenciais Nobre surgiu como o elemento politicamente neutro, numa eleição em que defendia as suas ideias. Apesar da sombra do FMI que paira sobre nós, as legislativas não são (ou não podem ser) espaço para julgamentos de personalidades, sob risco de nos esquecermos de promessas feitas simplesmente porque não as lemos.

Quanto a Nobre, veremos como defende as ideias do PSD. Na altura das presidenciais sabemos que discordava da visão de Pedro Passos Coelho sobre, por exemplo, o sistema de saúde, mas nessa altura também pensava assim:



Thursday, April 7, 2011

FMI está já aí!

Dia 5 de Junho (ou antes para quem o faz à distância) vamos ver como anda a memória dos portugueses. Ficar em casa é concordar com o resultado, seja ele qual for. Seja ele qual for, se a postura de votar nos partidos como se estivéssemos a votar num clube se mantiver, então que aí vem, não haja enganos, é mais do mesmo. Mais daquilo que nos levou a este ponto, em que se chumba um ataque aos portugueses (PEC IV) porque não ataca o suficiente...

Até lá ficam-nos as memórias da (pen)última passagem do FMI por terras lusas:


Thursday, March 17, 2011

Jovens Determinados

«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar» (Cavaco Silva, 15-Março-2011)

Ao meu caro Presidente da República, recomendo apenas que, deixe os jornais por cinco minutos, e se deleite com este poema da Sophia (de Mello Breyner Andresen), datado de 1977.


Partiu vivo jovem forte
Voltou bem grave e calado
Com morte no passaporte

Sua morte nos jornais
Surgiu em letra pequena
É preciso que o país
Tenha a consciência serena








Tuesday, March 15, 2011

Os Homens e a Luta (Parte II)

De um ponto de vista de personagem, Neto e Falâncio movem uma enorme massa humana, mas será que essa enorme massa humana se revê de facto na música?

A pergunta surge porque quem trouxe para a ribalta estes artistas foi um concurso que, convenha-se, há muito que prima pelo perfil tímido e que se apresenta mais como uma coisa que tem de ser do que algo que merece ser disputado. Nada a ver com outros tempos...

Uma análise cuidada às regras do concurso dizem que os Homens da Luta foram vencedores a cumprir as regras (como Fernando Tordo notou na RTP, logo eles que são tão famosos por as esticarem) e as regras diziam que o público tinha peso na matéria. Eu poderia partir para o comentário demasiado fácil e dizer que se calhar devíamos ter um parlamento mais como o festival, mas não o vou fazer... Cientes disso os Homens da Luta iniciaram uma campanha para que os seus fans votassem neles. A campanha deles não foram duas mensagens no facebook uma semana antes dos resultados! A campanha deles foi repetida à exaustão, um convite a irem ao site do festival (onde todas as músicas estavam representadas), a votarem neles para, primeiro, serem escolhidos, então, para ganharem. Foi uma abordagem muito profissional, como diz Paulo Morais no seu blog (Marketing Digital: Uma lição dos Homens da Luta para vencer na rede).


Tentar que música A Luta é Alegria não vá ao Festival como representante luso funciona quase como elogio à música e confere-lhe uma aura que ela não tem, fazendo lembrar outras touradas... Face ao que eles já fizeram a música nada tem de revolucionário e/ou político. Como as regras do festival determinam. Se quem ouve esta músia ali revê qualidades políticas, então quando ouve o L-Pod deve ficar com os pelos do rabo eriçados!

O L-Pod, para quem não sabe é o (esse sim) revolucionário álbum, distribuído num bonito leitor de MP3 com espaço ainda para juntar o hino festivaleiro, umas quantas da Deolinda, um José Mário Branco e/ou uma banda do exército. Também se pode simplesmente apagar aquilo e colocar lá dentro os Nocturnos de Chopin e/ou o Requiem de Mozart, o álbum tem essa versatilidade, não prende, não amarra, não obriga a ficarmos com o que não queremos.

Há quem acuse os Homens da Luta de falta de qualidade musical. Concordo que esta será talvez a sua canção menor. Como não sou musicólogo não vou avaliar isso. Agora rotulá-los de artistas menores é errado. Pode haver quem não goste das letras, quem não goste da mensagem e até quem não goste do visual, e por todos esses motivos tentem calá-los e rotulá-los de artistas menores, mas a música que fazem é boa música, que não precisa do visual para chamar fans. Depois de um dos mais aliciantes projectos no punk-rock nacional, Jel e o irmão viraram 180º e deram-nos um dos melhores projectos de música portuguesa. Em vez de os aplaudirmos vaiamos. Não faz mal... 

Nas notícias sobre sábado, um jornal espanhol, de seu nome El País, achou que devia rematar a notícia com a presença dos representantes de Portugal na Eurovisão. E nós sabemos como os espanhóis nunca nos dão pontos...