Tuesday, October 19, 2010

O recém descoberto sentido de dever patriótico

Paulo Rangel apela à abstenção por "dever patriótico"

Vindo de quem vem é caso para dizer que mais vale tarde que nunca. Ou será? Desde que os Governo anunciou, no passado dia 29 de Setembro, as medidas de austeridade para o OE, que inúmeras personagens ligadas ao PSD se têm desdobrado em sucessivos comentários ao que deve ser feito. Enquanto que o querido líder bate começou pela tecla da negação, para mais recentemente ceder um pouco à da troca de favores. Porque é isso de que efectivamente se trata quando ouvimos falar em negociar o OE! Nos últimos vinte anos, dois partidos têm-se dividido na governação, atacando-se ferozmente e em nada diferindo. Nada! O maior problema do PSD pré Passos Coelho residia precisamente nesse ponto: não havia oposição possível a um governo que cumpria escrupulosamente o seu programa de Governo. Até que Passos Coelho achou por bem mostrar que estava vivo, apresentando uma revisão constitucional que tinha por objectivo maior fazer barulho.

O que Passos Coelho não esperaria é que o barulho produzido fosse de tal forma que, mesmo contra um governo desgastado por uma intensa crise, as sondagens dessem uma clara derrota ao PSD. Aqui é que a coisa começa a correr mal. A Portugal entenda-se!

Fazendo um apanhado do mês de Setembro, dificilmente haverá um dia em que Passos Coelho não tenha aparecido esbaforido nos jornais a dizer que não apoiaria a aplicação das medidas recomendadas internacionalmente (e que a sua antecessora também havia defendido), ou a dizer que não disse o que disse (a propósito da revisão constitucional), ou ainda a antecipar um OE em que, como toda a gente já saberia na altura, se iria abster para permitir a sua viabilização.

O resultado não poderia ser mais irónico. No mesmo dia em que o EUROSTAT (através da divulgação de dados) dava razão ao Governo, relativamente a não ter alinhado por cortes de salários e aumento de impostos, o Governo anuncia estas medidas (e outras), e o PSD, mal conseguindo conter lágrimas de alegria, afirma estar contra (pudera, se não fossem essas medidas dificilmente teriam hipóteses numa luta eleitoral).


Não tenho grandes esperanças que as coisas mudem... Se fosse coerente consigo mesmo, o PSD votava contra. Se houvesse coerência na Assembleia da República, toda a oposição votaria contra. E o orçamento chumbava. E o governo caía. E então seria o vê se te avias, mas com uma certeza: para o Zé Povinho, pior não fica!

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