Monday, March 14, 2011

Os Homens e a Luta (Parte I)

Tenho estado uns tempos afastados, não por falta de assunto, mas mais por sentir que havia demasiado assunto para tão pouco tempo que disponho. Hoje decidi-me e, como o título deixa antever, vou falar sobre o que toda a gente fala.


O número dos Homens da Luta é talvez um dos mais inteligentes números satíricos já feitos em Portugal. Ao lado dele, o humor refinado dos Gato Fedorento não passa de piadolas atiradas ao ar. Confundir o número com os cantares interventivos do pré e pós 25 de Abril é um elogio e um equívoco.


Um elogio porque liricamente estamos a falar de um dos períodos mais ricos da música portuguesa e os Homens da Luta são, liricamente, herdeiros desse período. Musicalmente foi também uma altura de renovação, com a entrada de sons do folclore continental e ultramarino e os Homens da Luta foram buscar os frutos dessa renovação. Em termos de figurino parece que desde as camisas ao cabelo também são herdeiros dessa época, mas é aí que começa o equívoco.


Enquanto que representando esteticamente o período do PREC, os Homens da Luta chamam-nos a atenção para quem pega num megafone e defende os nossos direitos. Seria importante ver o depois da Luta, algo que eles não sonegam e assumem como parte do seu número. Na famosa intervenção no Seixal, Jel bem passa a mensagem que "Sócrates é bom para a Luta"; na tomada de posse do Governo (em que foram presos por perturbar o funcionamento de um órgão de soberania) vão ao ponto de listar uns quanto políticos de esfera governativa (e aqui não se ficam pelos da actual esfera governativa) que começaram na Luta, em entrevistas o camarada Neto diz várias vezes que espera que não acabe a Luta, porque senão ainda tem "de ir trabalhar".


É compreensível que não hajam muitas forças políticas a quererem colar-se às personagens! A mensagem que transmite não se torna falsa por estar inserida num número humorístico, construído à custa de um imaginário que nos trouxe onde hoje nos encontramos, porque não haja a ilusão camaradas, quem realmente triunfou com o 25 de Abril e o 25 de Novembro foram os mesmos que cantam em Tarrafal que a famosa tortura do sono consistia em ser obrigado a dormir porque se queria direitos...



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