Wednesday, June 18, 2014

Palavras dos Outros: E no futebol é o menos - Ferreira Fernandes

Ferreira Fernandes, numa das curtas crónicas do DN, usa o jogo de abertura do Mundial para fazer o diagnóstico de um país. Como apregoo o que ele diz há algum tempo, nem me vou alongar mais no comentário. Como habitual, os destacados são meus.
E no futebol é o menos
Leon Trotsky, o revolucionário russo que falhou o poder, pode não parecer a pessoa mais adequada para citar. Ele é o chefe político da primeira revolução russa, a de 1905, e sai dela sozinho; ele é o chefe militar da segunda revolução russa, a de 1917, e sai dela indefeso. Um derrotado, pois. Mas ele é tão inteligente (e escreve tão bem) que vale a pena ouvi-lo mais do que aos outros seus colegas pela mesma razão que faz a opinião de José Quitério sobre uma omeleta ser mais importante do que a opinião da galinha. Disse Trotsky: "A tragédia da revolução mundial é a tragédia da liderança da revolução mundial." Como interessa pouco a revolução mundial, desbastemos o irrelevante. E fica: a tragédia é a falta de líderes. Podia ser a divisa de Portugal. Na política do País, na direção das empresas e no assunto que agora nos anima, perdão, desanima. Um dia destes, a seleção portuguesa foi para o intervalo perdendo pesadamente - já aí, nos 45 minutos anteriores, com as teimosias nas escolhas e tolices nos comportamentos era nítida a falta de liderança. Mas há um retrato mais flagrante, é a saída do balneário. Quem estivesse incomunicável para o mundo nos últimos dez anos e, agora, no sofá, via os jogadores sem garra a regressar ao relvado, exclamaria: "O Scolari já não é o treinador!" É toda a diferença entre um líder, mesmo sargentão, e um furriel amanuense. Por cá manda quem não lidera. E no futebol é o menos.

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