Tuesday, July 7, 2015

Do DN ao CM dista um filme de Kubrick

Comecei a ler o DN nos tempos em que Mário Bettencourt Resendes tornou o DN o mais barato jornal diário portugês (na altura 100 escudos contra 140 do Público e 120 dos restantes, em euros fica mais ou menos 50, 70 e 60 cêntimos respectivamente).

Podia enumerar a quantidade de coisas que o DN tinha que os outros não, desde a qualidade da secção de ciência aos conteúdos direccionados (o incontornável DN Jovem), passando pelo espaço plural. Tudo isto está morto. Já andava moribundo nos últimos tempo de vida de Óscar Mascarenhas, provedor do leitor que semanalmente dava um curso de jornalismo e que era dos pouco colunistas que valia a pena ler, mas a promoção de André Macedo a director do jornal foi uma machadada profunda na minha relação com a mais fiel leitura que tinha.

O DN que temos hoje nem sequer uma sombra é do espaço plural em que um tipo de esquerda e direita tinham uma página semanal (dividida equitativamente entre cada um) para trocarem cartas ou em que um bispo e um ateu debatiam a sociedade à luz das suas crenças. O editorial de hoje de André Macedo é, nos seus primeiros três parágrafos, um cinzento sinal dos tempos. Ninguém devidamente informado pode afirmar o que ele afirma, o que apenas nos pode deixar a pensar que ou está a falar do que não se informou, ou mente porque não tem capacidade para mais. Se for a primeira, devia pelo cargo que ocupa, não se pronunciar. Se a segunda, não pode ocupar o cargo que ocupa. Sabendo do percurso dele dentro do grupo proprietário do DN, a segunda é claramente a mais provável.

Assim sendo, o DN deixou de se poder chamar um «jornal de referência». Tal como o HAL (2001, Odisseia no Espaço) são as letras que precedem IBM, também DN são as letras que sucedem a CM. Ao nível do sensacionalismo e do português de primária, para não dizer primário, nota-se. Ao nível da falta de revisão, com gralhas a sucederem-se regularmente também. Informativamente, só os cabeçalhos restam para distinguir um do outro, só que o uso destinado a ambos não faz distinção de cores!

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