Monday, February 10, 2014

Palavras dos Outros: Confraria Joan Miró - Paulo Baldaia

Para dar um tom de contraditório, passo a crónica de Paulo Baldaia, dia 9 no DN. Como penso que este assunto está a ficar esgotado, os destacados deste texto e os destacados do texto do Daniel Oliveira, serão tudo o que de pretendo dizer sobre o tema.

Portugal avança e torna-se mais culto. Descobriu que tem milhares de seguidores do grande pintor catalão e a confraria Joan Miró obteve uma grande vitória. Num país a precisar de feriados, proponho que 4 de Fevereiro (dia do anulado leilão) seja assim assinalado no calendário.

Ironias à parte, convém dizer que este País está pejado de gente que se vê a si própria como muito culta e que gosta de fazer de todos os outros uma cambada de pacóvios. Na grande misturada de argumentos, foram atacados os hereges que se dispuseram a vender tão sagrada pintura; os incompetentes que se preparavam para vender abaixo do valor e os criminosos que fizeram os quadros sair às escondidas.

Descontando a questão administrativa (o processo de saída dos quadros não cumpriu todos os requisitos previstos na lei), os restantes argumentos são bastante discutíveis. Nem aqueles quadros nos fazem assim tanta falta (há muita pintura portuguesa para comprar e expor nos nossos museus) nem aquelas pinturas valem mais do que derem por elas (as coisas valem o que o comprador quiser pagar e não o que vendedor quiser receber). E, entre os que estão contra a venda, há os que dizem que vender tantos quadros ao mesmo tempo os desvaloriza e os que garantem que a colecção é boa e valiosa porque é grande e representa várias etapas do artista. Tudo e o seu contrário.
Voltemos à ironia. O que os confrades de Miró vieram dizer-nos nesta semana é que o saudoso Oliveira e Costa deve ser reabilitado porque deu um grande contributo à cultura portuguesa, adquirindo, com o dinheiro dos contribuintes, uma coleção que haverá de trazer a este País milhões de amantes da cultura. Pelo menos os espanhóis passarão a ter como objectivo de vida visitar Lisboa para ver Miró.

Não lhes passa pela cabeça que os 30 ou 40 milhões de euros, que possam valer aqueles quadros, sejam uma parcela a abater na pesada factura que os portugueses têm de pagar pela criminosa gestão do BPN. Argumentam alguns que a factura do BPN ascende a milhares de milhões de euros e que mal se nota o valor dos quadros. Mas é da matemática: 50 mais 50 dá 100, 100 mais 100 dá 200 e por aí fora...

Não ocorre aos confrades, já que não querem poupar os contribuintes, pedir ao Governo que o valor conseguido no leilão seja utilizado, por exemplo, para devolver às universidades os 30 milhões que lhes foram cortados. Para estar contra tudo serve. Quantos desses mesmos estariam a zurzir no Governo se a opção tivesse sido a de ficar com os quadros?

PS: Miró foi só mais uma novela informativa a juntar à novela das praxes e a outras pérolas do mediatismo português. Sobre isso e sobre a actividade jornalística falarei na próxima semana.

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